Oscar faz justiça ao indicar a atriz Kristen Stewart e não Lady Gaga

A coluna de hoje explica por que a indicação ao Oscar de Kristen Stewart foi merecida, enquanto a de Lady Gaga não seria. Boa leitura!

Oscar faz justiça ao indicar a atriz Kristen Stewart e não Lady Gaga

Uma das coisas mais interessantes das indicações ao Oscar 2022 é a contramão em que a Academia entrou em relação às premiações anteriores. Isso várias categorias, mas aquela em que isso mais se aplica é a de Melhor Atriz. Isso porque SAG (prêmio do Sindicato de Atores) e BAFTA (o Oscar europeu) se lembraram de Lady Gaga, por “Casa Gucci”, mas esnobaram Kristen Stewart, por “Spencer”. Por isso, as apostas para  indicação ao Oscar eram certas para uma e duvidosas para a outra. No dia 08 de fevereiro, porem, a Academia virou o jogo.

Havia quatro nomes dados como certeiros nas indicações: Nicole Kidman (“Apresentando os Ricardos”), Lady Gaga (“Casa Gucci”), Olivia Colman (“A Filha Perdida”) e Jessica Chastain (“Os Olhos de Tammy Faye”). Para a quinta vaga, pairava o nome de Jennifer Hudson (“Respect: A História de Aretha Franklin”), que estava presente no SAG. Quando chegou o dia D, os atores Leslie Jordan e Tracee Ellis Ross foram os responsáveis por dar as notícias.

Tracee Ellis Ross e Leslie Jordan divulgando os indicados.

Quando chegaram em Melhor Atriz, disseram primeiro os nomes de Chastain e Colman. Até aí, tudo no previsto. O primeiro sinal de alerta foi ligado com o terceiro nome: Penélope Cruz, por “Mães Paralelas” (que estreará no próximo dia 18 na Netflix). Foi quando pensamos: “Opa, alguém vai ficar de fora”. Prosseguindo, citaram Kidman e, depois, veio a bomba. Kristen Stewart fecha as cinco indicações a Melhor Atriz, sem Lady Gaga no páreo.

POKER FACE

Não há dúvidas de que a cantora e atriz, que já tem um Oscar de Melhor Canção em casa, foi, de longe, a melhor coisa de “Casa Gucci”. Como Patrizia Reggiani, ela se veste bem com a ganância e a sede por poder e glamour da personagem. O problema é que, apesar de muito boa, a atuação parece mais grandiosa do que realmente é. Isso porque o filme é fraco, cheio de sotaques horrorosos e desperdiça um grande potencial narrativo e de elenco mesmo. Exceto Gaga e Jeremy Irons, todo o elenco sucumbe ante o clima de deboche da obra. E nenhum cai tão vertiginosamente quanto Jared Leto, em uma atuação medonha que fez por merecer sua indicação ao Framboesa de Ouro (o Oscar dos piores do ano).

Lady Gaga em “Casa Gucci”: boa atuação.

Na frente disso, a atuação da protagonista parece maravilhosa mesmo. Contudo, se esfregar bem os olhos, você verá que ela está boa, sim, mas não a ponto de Oscar. Se colocar um par de óculos, ainda enxergará outras duas atrizes que mereciam a suposta vaga dela: Renate Reinsve, essa, sim, maravilhosa em “A Pior Pessoa do Mundo”; e a própria Jennifer Hudson, brilhando em voz e corpo em “Respect”. Para isso, é preciso que o fã de Lady Gaga veja estas as obras, tire suas conclusões e esqueça a cara de paisagem – ou melhor, o poker face – que fez no momento da notícia. Ela terá outras oportunidades, mas não poderia ser aqui, temos que admitir.

ADEUS, CREPÚSCULO

Por outro lado, Kristen Stewart mereceu sua indicação, ainda mais depois de tanto esnobe de prêmios anteriores. Sua atuação como a princesa Diana não é tão intensa quanto a de Emma Corrin na quarta temporada da série “The Crown”. Mesmo assim, a ex-Bella Swan faz um trabalho esplêndido ao tecer uma pessoa que tem a alma sugada aos poucos quando está próxima de sua nova família: a Corte Real Britânica. Aliás, uma alma que perambula na casa e assombra uma penca de gente que parece desalmada – incluindo o marido, Príncipe Charles. Cada rompante de fúria contida e cada pedido de socorro no olhar dela mudam o nosso olhar sobre a atriz.

Kristen Stewart em “Spencer”: grande momento.

E como víamos Kristen Stewart? Bem, ela era praticamente um símbolo de inexpressividade facial. Quando surgiu na saga “Crepúsculo” (2008), ela já tinha um largo currículo. Aos doze anos, trabalhou com David Fincher em “O Quarto do Pânico” (2002), minha atuação favorita dela na adolescência. Apareceu em obras independentes, como “O Silêncio de Melinda” (2004); aguardadas, como “Zhatura: Uma Aventura no Espaço” (2005); e em grandes dramas, como “Na Natureza Selvagem” (2007). A saga vampírica varreu a fé no talento da atriz, que fez de Bella uma poker face ambulante, e o fim de “Amanhecer: Parte 2” (2012) não apagou essa imagem. Nem sua boa atuação em “Acima das Nuvens” (2015) fez isso. Agora, com “Spencer” e sua primeira indicação ao Oscar, ela já pode dizer adeus ao passado.

ELA GANHA O OSCAR?

Ainda está cedo para apostar, mas acredito que não. Prefiro Jessica Chastain em “Os Olhos de Tammy Faye”, como a apresentadora pioneira do evangelismo televisivo. Só não gosto mais de Nicole Kidman como Lucille Ball, em “Apresentando os Ricardos”, por causa daquela incômoda maquiagem de boneca que atrapalha a mera visão de seu rosto. Olivia Colman continua uma excelente atriz dramática em “A Filha Perdida”. E nem tem como falar de Penélope Cruz, já que “Mães Paralelas” só estreia na semana que vem. Mesmo que Kristen Stewart perca esse Oscar (que não sabemos se confirmará), sua indicação foi justa. E, ainda mais considerando os nomes fortes que poderiam estar em seu lugar, isso já é muito.

 

Júnior Guimarães é jornalista e escreve a coluna Cinema em Tempo. Toda sexta-feira aqui no Roraima em Tempo temos uma análise sobre o mundo cinematográfico. No Youtube, Júnior tem um canal onde faz críticas e avaliações sobre cinema. 

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