O lançamento The Flash faturou 55 milhões de dólares em sua estreia nas bilheterias americanas. Isso é ruim? Para um filme comum, não – pode até significar sucesso, dependendo do filme. Entretanto, para um projeto adiado várias vezes, com um investimento de mais de 200 milhões de dólares e um hype gerado por participações mais que especiais, esse resultado nas terras gringas é uma CA-TÁS-TRO-FE.
“Ah, mas tem o resto do mundo”.
Bem, os outros países desembolsaram 75 milhões de dólares, somando 130 milhões mundiais. Isso é menos que a abertura dos menos hypados Eternos (2021) e Adão Negro (2022). Outra comparação: Transformers: o Despertar das Bestas, lançado no segundo fim de semana de junho, faturou 170 milhões na estreia. Agora pergunto: qual dos dois você achava mais esperado? Transformers ou Flash? Você já sabe a resposta e, ainda assim, também já sabia que poderia não ser um sucesso. Porém, o que aconteceu estava abaixo até das piores previsões.
Daí quando você acha que não podia ficar pior, ele fica: The Flash teve uma queda de mais de 70% no segundo fim de semana. GERÔNIMO!
Crime e castigo
Comentar esse fracasso da aventura do herói mais veloz do mundo – e dos universos – é gerar um leque de possíveis motivos. O primeiro que vem à cabeça, claro, é Ezra Miller. Isso porque o ator foi acusado de uma série de crimes nos três últimos anos, como agressão física (agarrou uma fã pelo pescoço e jogou uma cadeira em outra mulher) e verbal (ameaçou um casal de morte e xingou várias pessoas em um bar). E mais: foi acusado de agredir, drogar e até de sequestrar uma adolescente. Sem contar os furtos de bebida alcoólica em uma casa. Para piorar, chegou a dizer que era a reencarnação de Jesus Cristo. Foi preso, solto, declarou-se culpado de certas acusações e prometeu se tratar.
No fim das contas, Miller não só pagou apenas uma multa irrisória como ainda permaneceu no filme – que, por sua vez, continuou na agenda da Warner como o grande lançamento de 2023. A revolta nas redes sociais foi massiva, com críticas voltadas principalmente ao estúdio, por permitir que um suposto criminoso continuasse encabeçando a superprodução. De toda forma, a ausência do ator na divulgação de The Flash foi o sintoma direto do cancelamento dele. O segundo deve ser o boicote. Não dá para definir, mas creio que muita gente deve ter se recusado a pagar para ver Ezra Miller no cinema, tanto por ele quanto pela decisão da Warner. Assim, o ator cometeu vários crimes, só que, na falta de uma punição à altura, quem saiu castigado foi o filme.
Prego no caixão
O segundo possível motivo é a saturação do Snyderverso. Os fãs da DC devem achar estranho porque “só a Marvel faz sucesso” (não leve ao pé da letra), já que até os filmes mais criticados do estúdio geram grana. Basta ver no ano passado, o pior da história da Marvel em termos qualitativos, mas que tinha no Top 10 o fraco Thor: Amor e Trovão (8º lugar, com 760 milhões de dólares), o mediano Pantera Negra: Wakanda Para Sempre (6º lugar, 859 milhões) e o divertido Doutor Estranho no Multiverso da Loucura (em 4º, com quase um bilhão). Mesmo na pior fase, a galera quis ir ao cinema ver a Marvel, que fez seu pé-de-meia muito bem com o Universo Compartilhado.
Já o universo da DC, iniciado há 10 anos, está longe da organicidade do MCU. Começou com o bacana O Homem de Aço (2013) e o aguardado e polêmico Batman vs. Superman (2016), que faturou 872 milhões de dólares. É uma renda boa, mas insuficiente para a Warner, que esperava bater a barreira do bilhão. A coleção que veio a seguir é um filme mais criticado que o outro, com os horríveis Esquadrão Suicida (2016) e Liga da Justiça (2018) mostrando que o principal vilão de todos era a própria Warner. Exceções como Mulher Maravilha (2018) não eram suficientes, já que todos ainda pertenciam ao universo iniciado por Zack Snyder. E a chegada de James Gunn e Peter Safran com novos planos foi o prego no caixão para The Flash. Afinal, para que acompanhar um Universo que não importa mais?
Ladainhas superlativas
Mesmo não precisando de mais nada para o fracasso carimbado, ainda teve um outro fator: o (já costumeiro) péssimo marketing da Warner. Trailers que entregam mais do que deveriam, sessões antecipadas para fãs (que, com certeza, espalhariam que viram um filme “maravilhoso”) e um anúncio do próprio presidente da Warner, dizendo que The Flash era o melhor filme de super-herói que já viu. Quem acreditou em todas essas ladainhas superlativas deve ter saído muito frustrado da sessão, após perceberem que era um filme mais comum do que esperavam. Bom para quem dosou as expectativas e aproveitou os fan services.
Falando em fan services, essa foi a cartada final do marketing da Warner: fazer o mundo deixar Ezra Miller para lá. Para isso, dá-lhe Batman(S) e Supergirl na divulgação, que se destacaram mais que o personagem-título. O que só mostra que o estúdio não soube como lidar nem com a situação do ator, nem com o fim do DCEU.
Mesmo que, de fato, The Flash não seja “o melhor filme de super-heróis” que a galera esperava, essa tragédia na bilheteria nunca deveria ter acontecido. Baseado no hype, eu mesmo tinha previsto uma boa bilheteria, lá na matéria da outra bomba Shazam 2 (leia aqui). Errei feio, admito, mas quem não errou nessa? Como eu disse, o desempenho de The Flash ficou abaixo das até piores previsões. Depois desse choque de realidade, já estou até com pena de Besouro Azul e Aquaman 2, previstos para este ano.
Júnior Guimarães é jornalista e escreve a coluna Cinema em Tempo. Toda semana aqui no Roraima em Tempo temos uma análise sobre o mundo cinematográfico. No Youtube, Júnior tem um canal onde faz críticas e avaliações sobre cinema.