Ontem, meus amigos e eu conversávamos sobre séries que se alongam demais, que poderiam parar antes de determinada temporada. Então, três nomes foram jogados na roda: “Grey’s Anatomy”, “The Walking Dead” e “The Handmaid’s Tale”. A primeira, que está em sua décima oitava temporada, virou um “Malhação” de jaleco. A segunda, na décima primeira temporada, virou a representação definitiva da indagação “ainda está passando?”.
Já a terceira está “apenas” na quinta (que estreou no dia último dia 15, no Paramount+), mas já deu sinais de desgaste. Isso mostra que não é necessário que a grande duração da série determine o fim do hype. Na verdade, basta uma temporada fraca para tudo desandar. Provavelmente, essa queda deve tirar a fé do espectador em dias melhores para a série em questão. Se for isso, é uma pena: em alguns casos, as séries até voltam a melhorar, mas quem já as abandonou fica sem saber disso.
Perdendo o interesse
Mesmo ainda sendo elogiada, “The Handmaid’s Tale” começou a perder gás na terceira temporada. Depois de uma estreia sensacional em 2017, sendo a grande campeã do Emmy daquele ano, a segunda temporada não teve a mesma repercussão. Mesmo assim, a trama da gravidez da protagonista June (Elizabeth Moss) deu um tema para o segundo ano, o que foi bem importante ao enredo.
O problema da terceira temporada foi a repetitividade. Sofrimento, tortura, humilhação, revolta,… A hora de se impressionar com isso era no começo. Depois, bola para frente, mas a trama não saía do lugar.
Entretanto, há quem já tenha identificado esse problema antes disso. A advogada Elisama Naara, espectadora assídua da primeira temporada, começou a perder o interesse na segunda. “Senti que a história estava sendo alongada por causa do sucesso comercial que a primeira fez”, lamenta. “E o livro no qual a série é baseada é bem curto”.
O quarto ano finalmente andou, mas o estrago estava feito.
Triste fim
O caso de “The Walking Dead” é emblematicamente grave. Afinal, foram duas temporadas fracas SEGUIDAS: a sétima, que ainda segurou público (pela morte de um personagem importante); e a oitava, com audiência abaixo de 8 pontos. O povo desanimou e pouca gente quis saber dos anos seguintes.
Contudo, o mais triste disso é que as temporadas 9 e 10 retomam o fôlego perdido. A introdução dos Sussurradores (criminosos disfarçados de zumbis) é bacana, bem articulada e muito bizarra, contrapondo a chatice da fase Negan. Infelizmente, a galera já tinha largado a mão dos zumbis, bem como procurado outras coisas, sem voltar atrás. Tanto que temporada final teve a menor audiência de toda “The Walking Dead”.
Alem disso, todas as vezes que eu cito a série a alguém, a pessoa pergunta: “Ainda está passando?”. Que triste fim para um programa que foi tão popular.
Êxodo televisivo
De todas as séries que ainda estão passando, por assim dizer, “Grey’s Anatomy” continua querida pelo público. Que o diga a professora de inglês Renata Passos, que descobriu a saga da médica Meredith Grey nas redes sociais e a maratonou. Mesmo com a atual queda do hype, ela nunca teve vontade de abandonar o programa. “A série é muito humana, não foca só na personagem principal e tem temas bastante relevantes em vários episódios”, explica.
Porém, nem “Grey’s Anatomy” escapou do êxodo televisivo: sua décima oitava temporada registrou a pior audiência da história do programa. Os números baixos só aumentam quando são contabilizadas as sessões que ocorrem DEPOIS da exibição na TV (ou seja, reprises e streaming). Com isso, mesmo que culpemos a tendência atual de não acompanharmos mais um episódio em tempo real, o alerta está ligado. Será a hora de acabar?
Quando acabar?
Se alguém me perguntar quando uma série deve acabar, minha resposta é: depende da série. Se um programa funcionar como passatempo, há chance de uma boa longevidade. Isso mostra porque comédias tem tantas temporadas – embora não se aplique a todas. “Two and a Half Men”, por exemplo, só mostrou desgaste depois da saída de Charlie Sheen. E “The Big Bang Theory” só acabou porque Jim Parsons, que interpreta Sheldon, desistiu de continuar.
Contudo, se existe uma grande trama contínua ao longo das temporadas, a série precisa ser objetiva. Segundo Renata Passos, quando o tema fica sem ter aonde crescer, o tempo de vida da série fica muito reduzido, a história se perde e, com isso, a qualidade também. “Começa a encheção de linguiça e o script anda em círculos”, completa. Isso explica porque terminaram tão bem as séries “Ozark” (que fechou na quarta temporada, em 2022) e “Breaking Bad” (que teve cinco).
Então, para quem deseja fazer séries, fica o aviso: se o público percebe que está sendo enrolado, ele larga e vai embora. Como Elisama fez com “The Handmaid’s Tale”, um produto cujo excelente apuro técnico não disfarçou sua lentidão. Sobre uma possível solução, ela tem a resposta na ponta da língua: “Podia ter ficado amarradinha em 3 temporadas com a mesma qualidade”.
Júnior Guimarães é jornalista e escreve a coluna Cinema em Tempo. Toda semana aqui no Roraima em Tempo temos uma análise sobre o mundo cinematográfico. No Youtube, Júnior tem um canal onde faz críticas e avaliações sobre cinema.