Com o retorno parcial das aulas presenciais em Roraima em fevereiro deste ano, após dois anos de ensino remoto, um dos relatos frequentes é a falta de infraestrutura nas escolas estaduais. O Roraima em Tempo esteve na comunidade indígena Darora, na área rural de Boa Vista, para acompanhar um dos casos.
Esta é a segunda matéria da série ‘Como anda a educação?’. A primeira aborda sobre os impactos da pandemia na aprendizagem e como tem sido o retorno dos estudantes para o ano letivo após dois anos de pandemia.
Confira a primeira reportagem da série Como anda a Educação?
Há 81KM da capital, a comunidade tem duas escolas para atender os estudantes da região, a municipal e a estadual. Na Escola Estadual Indígena Paulo Augusto Silva há aulas para ensino fundamental, médio e Educação de Jovens e Adultos (EJA).
No entanto, com um prédio sem a estrutura necessária, os professores improvisam em outros locais para manter as aulas. Conforme um funcionário da unidade, que preferiu não se identificar, algumas delas ocorrem no antigo malocão da comunidade.
“Aqui é mais ventilado do que nas sala, então para fugir do calor algumas aulas são aqui. Antes a comunidade fazia reuniões nesse malocão, mas agora é a escola que usa, pois é melhor para os alunos”, explicou.
Escola sem reforma
Maria Augusta da Silva, de é uma das moradoras da comunidade e tem dois netos matriculados na escola do Estado. Ela relata que um deles, do 9º ano do fundamental, temia sair da escola da rede municipal de Boa Vista para a estadual devido às condições.
“Ele [neto] disse ‘ô vó, vamos mudar de escola só que vai ser uma diferença muito grande porque nós não vamos ter merenda boa como nós tínhamos na prefeitura’. Os professores ensinam, mas escola nós não temos porque eles estudam no malocão, na mangueira. Não tem nada na escola, eu quero que você veja quando é época de inverno. Quando vem a chuva os alunos têm que estudar até na igreja”, relatou.
Anteriormente, o Roraima em Tempo mostrou um vídeo publicado nas redes sociais em que um internauta filma a diferença entre as escolas indígenas estadual e municipal. Enquanto a Escola Municipal Indígena Vovó Tereza da Silva tem um prédio novo, a outra escola apresenta problemas como a falta de telhado e fiações soltas.
Para Maria Augusta, sem uma estrutura adequada os netos não conseguem se dedicar aos estudos como deveriam, já que precisam enfrentar problemas como o calor e a chuva. Além disso, ela criticou a postura gestão estadual, que até o momento não iniciou uma reforma na escola.
“O governo não tem olhado pra gente aqui. Agora ele [governador] vai começar a andar porque está próximo da eleição e aí ele vem de novo. Ele veio aqui em 2019, vamos ver se vem de novo”, disse.
O que o governo diz
À época das denúncias sobre a escola, o Governo de Roraima informou que conhece a realidade dos prédios escolares da rede estadual de ensino. Disse ainda que eles foram abandonados pelas gestões anteriores e que está trabalhando para mudar a realidade das escolas indígenas.
Sobre a Escola Estadual Indígena Paulo Augusto da Silva da comunidade Darora, a Seed disse que os recursos estão garantidos por meio de emenda parlamentar para a obra de ampliação. Por fim, disse que a revitalização da escola ocorrerá com recursos próprios do governo.
Denúncias em escolas estaduais
Contudo, esta não é a única escola estadual alvo de denúncias. Desde o início de 2021, pais e alunos têm relatado problemas nas unidades escolares do estado.
Este é o caso da Escola Estadual Manoel Horácio, na comunidade Guariba, no munícipio de Amajari. O teto da escola desabou após fortes chuvas na região.
De acordo com um morador, no momento do desabamento, os alunos e professores estavam em uma ação no Centro Regional Centro Regional de Educação Indígena do Amajari Noêmia Peres (Creianp). Segundo ele, se os alunos estivessem no local, teriam corrido risco de se machucarem.
“Só não teve uma tragédia maior porque os alunos estão no Creianp. Então assim, as aulas foram suspensas hoje porque eles foram para essa aula de campo”, disse
Situações semelhantes ocorreram nas Escola Estadual Major Alcides, localizada em Boa Vista e na Escola Estadual Henrique Dias em São João da Baliza, Sul de Roraima.
O muro da unidade localizada na capital caiu no dia 28 de abril, conforme apurado pelo Roraima em Tempo. De acordo com informações, o muro já estava em péssimas condições há bastante tempo e caiu após as chuvas.
Além disso, até unidades que já receberam reforma seguem com problemas na infraestrutura. É o caso da Escola Estadual Lobo D’Almada. No último dia 2, um aluno denunciou que os discentes estudavam em um auditório devido uma infiltração no teto de uma sala de aula.
“O governador foi no começo no ano se vangloriar da reforma, mas ninguém aparece agora quando o teto está desabando em água”, relembrou.
A unidade passou recentemente por uma reforma, entregue pelo próprio governador Antonio Denarium (PP). A entrega ocorreu no dia 14 de fevereiro. Conforme ele, a escola foi entregue totalmente revitalizada com investimentos de mais de R$ 1 milhão.
Fonte: Da Redação