O empresário Victor Vilanova chamou ribeirinhos do Baixo Rio Branco de “vagabundos” por protestarem contra a licença cedida pelo Governo de Roraima para que ele explore a pesca esportiva na região.
O Estado anunciou a licença na semana passada, com duração de 10 anos. A empresa contemplada é a Vilanova Amazon Agência De Viagens LTDA, do Paraná.
A declaração de Victor veio após o jornal procurá-lo para comentar a insatisfação dos ribeirinhos. De acordo com eles, o Estado indicou e liberou a licença para o empresário.
O Roraima em Tempo tentou encontrar a publicação do documento, mas não a encontrou no Diário Oficial do Estado (DOE), nem no site da Fundação Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Femarh).
Todavia, nas redes sociais, o governador Antonio Denarium (sem partido) divulgou a licença, e defendeu a medida para atrair turistas.
O jornal procurou o governo, entretanto, ainda não recebeu resposta.
Conforme o presidente da Associação de Moradores de Canauini, Valdenir dos Santos, os ribeirinhos classificam a medida como “desrespeito”.
De acordo com Valdenir, os moradores já trabalham com a pesca esportiva há 16 anos, em Caracaraí, junto à empresa Liga de Eco-Pousadas da Amazonia LTDA.
O jornal procurou a empresa, mas o gerente não estava disponível para conversar.
Valdenir disse ainda que a Liga trabalha na preservação do rio, e paga compensação financeira para reduzir o impacto no meio ambiente. Dessa forma, o benefício é gasto nas comunidades.
“Hoje temos 100% de água limpa por conta de poços artesianos que foram feitos nas três comunidades. Além disso, há motores de popa para fazer remoção quando tem pessoas doentes entre outros auxílios”, fala.
A Liga de Eco-Pousadas possui uma licença expedida pela Prefeitura de Caracaraí. Por isso, os moradores pedem que a Femarh mantenha a concessão.
Na mesma linha de entendimento, o presidente da Comunidade Lago Grande, Arailton Silva, diz que a decisão de retirar a Vilanova do Baixo Rio Branco é unânime.
“Nós não queremos que esse Vilanova trabalhe no nosso rio. O governador e a Femarh estão tentando nos obrigar a aceitar isso, e não queremos. Somos maioria!”, declara.
O Ministério Público do Amazonas (MPAM) investiga Victor Vilanova por crime ambiental. Em maio deste ano, o órgão abriu um inquérito para apurar o caso.
Conforme a denúncia, Victor causou desmatamento na Região do Rio Jufaris, nas comunidades Caburis e Caju, localizadas entre Barcelos, no Amazonas, e Caracaraí, em Roraima.
Além disso, o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipam) disse ao Ministério Público que Vilanova não tinha licenças ambientais para atuar na região.
Contudo, procurado pela reportagem, o empresário Victor Vilanova rebateu as críticas, chamou os ribeirinhos de “vagabundos”, e acusou os moradores de pagarem para a imprensa publicar matérias.
“Denuncia, apresenta um documento que eu não tenho, aí eu posso questionar a denúncia. Agora, só ficar fazendo bagunça, barulho, pagando jornal para falar mal de mim, é a cara deles. Eu tenho como me defender juridicamente, tenho tudo documentado, e quem não gostar chora”, diz.
Por outro lado, Victor falou que a licença liberada pelo governo é baseada em um contrato que ele fez com as Vilas Terra Preta e Lago Grande.
“Tenho um vídeo que mostra a comunidade da Terra Preta e Lago Grande assinando contrato de 10 anos comigo. Então, o que acontece, esse é o choro de desespero da outra empresa que não tem licenciamento legal. É uma briga de interesses”, afirmou.
Vilanova disse que gastou ainda R$ 96 mil com o licenciamento e atuar na região. “Paguei avião, fazendo ação social na Terra Petra. Eu levei do meu bolso cinco médicos. Todo acordo que foi combinado com a Vila”.
Questionado sobre o inquérito, o empresário voltou a dizer que foi denunciado por “adversários”.
“Eu paguei R$ 60 mil para fazer uma propriedade privada e a família que me cedeu o terreno pegou a obra para fazer. Pedi na secretaria da cidade uma autorização de corte e liberação para obra. O rapaz cortou uma castanheira e colocaram na minha conta, e abriram processo contra mim. Isso é outro choro de perdedor que não tem documento. Eles só têm propina para as vilas. Eu não sou bandido”, finaliza.
A Femarh disse que emitiu a licença dentro da legalidade, de acordo com a legislação, e que os empresários interessados na pesca esportiva podem regulamentar a atividade.
“Esclarece que no processo de licenciamento está inserido um abaixo assinado da comunidade apoiando a instalação da empresa”, diz.
Segundo a Femarh, os técnicos ambientais foram ao Baixo Rio Branco e conversaram com a comunidade que apoiou a empresa.
O governo disse ainda que não existe restrição de outras empresas atuarem, mas que precisam estar regularizadas “para gerar emprego e renda com responsabilidade ambiental”.
Por Redação
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