Vamos lá. Hoje falo de um tema pertinente: o cinismo. Cínico é todo aquele que afronta ostensivamente as conveniências morais e sociais. É aquele que pratica atos imorais, escandalosos, desavergonhado, debochado, bem como sarcástico. Cínico é também aquele que fala ou age com descaso, é imprudente, sem escrúpulos; petulante e atrevido.
Pois é. Todos esses adjetivos se encaixam hoje muito bem ao substantivo próprio: Jalser Renier. Com a iminente cassação, o deputado miliciano de Roraima, único do Brasil, durante anos, manteve o controle total sobre os demais colegas parlamentares, inclusive, negociando o comando de pastas importantes, como a Saúde, no governo de Antônio Denarium.
Na Sesau, por exemplo, em menos de um ano, a PF teve que fazer duas operações para estancar a sangria nos cofres públicos. A estimativa dos federais é que mais de R$ 200 milhões foram desviados. Marcelo Lopes, então secretário e “testa de ferro” de Jalser, comandava os esquemas de corrupção e direcionava licitações fraudulentas.
Entre os esquemas, sem dúvida o do Chico Rodrigues, aliado do governo, foi o mais escandaloso. Os federais flagraram o senador com dinheiro da Saúde dentro da cueca. O caso logo ganhou as manchetes dos maiores jornais do Brasil e do mundo. Vergonha para Roraima.
Então, incomodado com os órgãos de fiscalização em seu calcanhar, Jalser partiu para o desespero e mandou sequestrar e torturar Romano dos Anjos, só porque o jornalista criticava e denunciava a maracutaia desenfreada na Sesau. Mas logo a Polícia e o MP desvendaram o crime: Jalser foi o mandante, sem sombra de dúvida.
No Parlamento, ainda como presidente, lá estava Jalser novamente atolado até o pescoço em esquemas de corrupção. Foi preso e condenado por desviar dinheiro público. O deputado saía da tranca e, na cara de pau, presidia as sessões na Casa do Povo. Outra vergonha. Roraima foi o primeiro estado do País a ter um presidiário comandando o poder Legislativo.
Mas apesar de responder por tanta corrupção, o deputado miliciano permanece ileso. E agora, querendo ser o paladino da verdade e dos bons costumes, Jalser se acha no direito de ameaçar os colegas de Parlamento, com denúncias infundadas, sem comprovação alguma. Quanto cinismo!
O deputado mais corrupto que aqui apareceu, sabendo que será devidamente cassado, agora tem a cara de pau de cobrar honestidade. Um cara que passou a vida toda roubando, agredindo e ameaçando opositores políticos surge de repente, do nada, pregando moralidade no trato com a coisa pública. Essa é boa.
Esta semana, para minha surpresa, o condenado e presidiário deputado miliciano criou a tal campanha “O dinheiro é seu” para investigar “rachadinhas” na Ale/RR. Só pode ser piada, de mau gosto, óbvio.
Só para lembrar, em 2003, Jalser, autor da campanha, foi em cana porque participou do maior esquema já visto em Roraima de desvio de dinheiro público: o escândalo dos “gafanhotos”, como ficou conhecido nacionalmente. Portanto, é muita cara de pau, cinismo escancarado. Jalser é um câncer na política macuxi, por isso deve ser expurgado de uma vez por todas. Não podemos mais aceitar bandidos que usam a imunidade parlamentar para se “blindar”.
Então, já passou da hora dos deputados cassarem o mandato de Jalser. E não basta apenas a cassação, mas a prisão de um criminoso de alta periculosidade, como Jalser foi classificado pelo MP.
Jalser tem que “morrer” politicamente para o bem do povo roraimense. Chega de tanta impunidade. A sociedade cobra Justiça.
Álvares dos Anjos – cronista
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