Em entrevista à Folha de São Paulo, o governador de Roraima, Antonio Denarium (PP) defendeu o aculturamento de indígenas. Além disso, ele ainda afirmou que a crise humanitária e sanitária que atinge os Yanomami é um problema “localizado”. Ou seja, restrita a alguns grupos.
No último dia 20 de janeiro, o Ministério da Saúde decretou estado de emergência na Terra Indígena Yanomami após casos de desnutrição e malária na região. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) visitou Roraima no dia seguinte à publicação da portaria e então divulgou a situação que ele descreveu como “desumana”.
Denarium, por outro lado, disse que a responsabilidade da crise não é do Governo de Roraima, e sim de todos os últimos ex-presidentes da República, não exclusivamente do aliado Jair Bolsonaro (PL). “Foi dada publicidade a um problema que é recorrente há 20 anos”, avalia. “Estão criando um fato que não é de hoje”.
Exploração de terras indígenas
O governador de Roraima defendeu também que os indígenas devem explorar suas terras, férteis em minérios, e citou o exemplo de cassinos em reservas indígenas nos Estados Unidos da América (EUA).
“Imagine você, desempregado, passando fome, doente. Dentro da sua casa tem um quadro do Picasso que vale US$ 1 bilhão. O que você faria? Venderia. Aí pega o dinheiro e melhora sua qualidade de vida. Igual os indígenas americanos”, exemplificou.
Garimpo
Ainda na entrevista, Denarium afirmou que há mais de 50 mil famílias que dependem dele em Roraima e que não podem ficar desempregadas. Ele contestou que a atividade garimpeira esteja prejudicando a saúde dos Yanomami com o argumento de que há desnutrição indígenas em locais sem garimpo.
Ele comentou sobre o Projeto de Lei que sancionou para proibir a destruição de maquinários apreendidos do garimpo ilegal. Denarium disse que a ideia não era favorecer garimpeiros, mas remanejar esses equipamentos apreendidos para a agricultura familiar, ainda que não constasse no texto.
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“Quando fala de desnutrição, tem no Brasil inteiro. Se for em São Paulo, tem crianças com desnutrição. E estou falando da população normal, não-indígena. Se for na Bahia, que tem estrada e tudo, eles moram praticamente dentro da cidade. Eu estava vendo reportagem sobre índios Pataxó com desnutrição. Aqui em Roraima, 80% dos indígenas já são aculturados, ou seja, têm um bom convívio e relacionamento com os brancos”, afirmou.
Para o governador de Roraima, crise sanitária que atinge os Yanomami não é “generalizado”. Ele fez a mesma afirmação em entrevista à CNN no último dia 26.
“A Cufa [Central Única das Favelas] está entregando cestas de alimentos aqui. Você vê nas filas, nos vídeos que eles publicam, não tem nenhum desnutrido. Todo mundo bem arrumadinho, tudo certinho, O problema é localizado, não generalizado”, concluiu.
Além disso, Denarium argumentou que saúde indígena é de responsabilidade do Governo Federal. Em seguida, falou sobre o aculturamento de indígenas.
“Tenho 260 escolas em comunidades indígenas. Eles querem ser advogados, professores, médicos. Eu acho correto. Eles [indígenas] têm que se aculturar, não podem mais ficar no meio da mata, parecendo bicho. Tem que estar lá com condição, com estrada, escola, posto de saúde, fazendo a agricultura deles, produzindo macaxeira, farinha”, defendeu.
Fonte: Folha de São Paulo