Jalser Renier: de presidente da Assembleia a mandante de sequestro

Deputado foi preso na tarde desta sexta-feira (1º) durante a segunda fase da Operação Pulitzer

Jalser Renier: de presidente da Assembleia a mandante de sequestro
Jalser é acusado por delegado de ser mandante de sequestro – Foto: Divulgação/ALE-RR

Jalser Renier (SD) é um dos decanos da Assembleia Legislativa. São sete mandados como deputado estadual, em um crescimento visível nos últimos anos. Ele tem 27 anos de mandato.

Contudo, a vida pública vem sendo marcada por suspeitas de escândalos de corrupção, além de agressão à ex-prefeita Teresa Surita (MDB), e, agora, o sequestro do jornalista Romano dos Anjos.

O Roraima em Tempo reúne alguns fatos que marcaram a carreira de um dos políticos mais influentes do estado.

Presidência da Assembleia

Jalser Renier foi eleito pela primeira vez em 1994, aos 22 anos de idade. Nas eleições seguintes – 1998, 2002, 2006, 2010, 2014 e 2018 – saiu vitorioso nas urnas, com destaque no último pleito, sendo o mais bem votado, com mais de 8 mil votos.

No ano de 2015, o deputado assumiu a presidência da Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR). Entre manobras e negociações, ele aprovou resoluções que permitiam que ele ficasse até 2022 no cargo.

Contudo, no dia 25 de janeiro, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes afastou Jalser da presidência.

Ele seguiria para o quarto mandato como presidente, quando o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) acionou o STF para impedir a recondução ao cargo.

Para Moraes, a lógica de presidentes da Assembleia deve seguir o mesmo entendimento da Presidência da República, ou seja, apenas uma reeleição consecutiva.

O julgamento iniciou em junho, mas o ministro Gilmar Mendes que pediu mais tempo para analisar o caso.

No mês passado, o processo voltou para a pauta, no entanto, mais uma vez, Gilmar pediu vista e o julgamento foi suspenso. Não há data para voltar.

Por causa disso, Jalser diz que não reconhece a atual mesa diretora da Casa, presidida por Soldado Sampaio (PC do B). Eles são inimigos políticos.

Por outro lado, a Assembleia já disse que o retorno do parlamentar é “impossível”, já que a resolução que permitia esse movimento foi revogada.

Patrimônio e operações

Renier declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em 2018, que tem R$ 1,3 milhão em bens, entre terrenos, veículos e dinheiro em espécie.

Porém, operações do Ministério Público do Estado de Roraima (MPRR) colocaram em xeque a atuação do deputado e o ligaram a uma organização criminosa suspeita de desviar recursos do Poder Legislativo.

É que em 2016, o órgão deflagrou a Cartas Marcadas, que visa desarticular uma organização criminosa.

À época, o MPRR tinha indícios de participação do deputado, o que se confirmou com a Operação Royal Flush, em janeiro de 2019.

Jalser é investigado por suspeita de fraudar os processos licitatórios entre 2010 e 2016. De acordo com o MPRR, ele foi o principal beneficiado no esquema, que desviou R$ 24,5 milhões.

Prova disso é a troca de mensagens realizada e ligações interceptadas nas duas operações. Um dos investigados, por exemplo, tinha mais de 300 imóveis registrados. Ele era laranja, de acordo com o MPRR, e todos os bens eram de Jalser.

Conforme o ministério, parte dos valores desviados serviu para construir um posto de gasolina da esposa do parlamentar, Cinthya Gadelha, uma garagem e uma área de lazer na residência do casal.

O órgão apontou que Jalser “estruturou e aperfeiçoou o esquema criminoso de desvio de recursos públicos”. À época, o deputado acusou o MPRR de atuar por questões pessoais.

Recentemente, o MPRR voltou a apresentar uma terceira denúncia contra ele por desvio de mais de R$ 1 milhão.

Gafanhotos

Entretanto, essa não foi a primeira prisão do político. No ano de 2016, ele foi preso por envolvimento no caso conhecido como “Escândalo dos Gafanhotos”.

Jalser, mesmo preso, continuou como presidente da Assembleia. Pela manhã, ele conduzia os trabalhos e, durante a noite, dormia no Comando de Policiamento da Capital (CPC).

De acordo com a Polícia Federal (PF), a Casa Legislativa teve desviados mais de R$ 300 milhões. Alguns parlamentares, que também são acusados no esquema, continuam exercendo as funções, como o senador Mecias de Jesus (Republicanos).

Conforme as investigações, diversos funcionários “fantasmas” eram colocados na folha de pagamento do Poder. Contudo, eles devolviam os salários para os deputados.

Jalser e Teresa

O temperamento do parlamentar também é considerado polêmico. No dia 26 de outubro de 2018, ele invadiu a Rádio 93FM, onde a então prefeita Teresa Surita dava entrevista.

Exaltado, o deputado entrou no estúdio e a agrediu. Um vídeo feito no momento foi amplamente compartilhado nas redes sociais.

Jalser também agrediu assessores da ex-prefeita que a acompanhavam no momento da entrevista. Ele chegou a quebrar o celular de um deles.

Pouco mais de um ano, o então presidente da Assembleia foi condenado pela Justiça a pagar R$ 40 mil de indenização à Teresa pelas agressões.

Mandante do sequestro

Agora, Jalser Renier aparece como o suspeito de ser mandante do sequestro e tortura do jornalista Romano dos Anjos.

De acordo com o inquérito da Polícia Civil, o parlamentar liderava uma organização criminosa que tinha aparato da Assembleia para cometer crimes.

A organização era formada por policiais militares da reserva e da ativa, que trabalhavam na segurança institucional e particular do deputado.

Seis militares envolvidos no crime foram presos no dia 16 de setembro, na primeira fase da Operação Pulitzer. Alguns deles estão no CPC enquanto outros no Quartel do Comando Geral da Polícia Militar (QCG).

De acordo com as investigações, Jalser, por vingança, ordenou o sequestro do jornalista que apresentava um programa policial na TV Imperial, em que fazia duras críticas à gestão dele frente à Assembleia.

Por Redação

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