Irislene Neres Rodrigues, de 26 anos, perdeu o bebê no último dia 14 deste mês por conta da demora no atendimento e realização do parto na Maternidade Nossa Senhora de Nazareth. Ela relatou a situação à redação nesta sexta-feira (22).
Conforme a mulher, no dia 10 de julho, ela estava sangrando. Por isso, foi à unidade para saber o que estava acontecendo. Chegando lá, Irislene foi atendida por uma estagiária, que disse que ela estava com 3 cm de dilatação. No entanto, o médico contestou.
“O médico conferiu e disse ‘não, você errou, ela não está. O colo do seu útero ainda está fechado, pode ir para casa. Qualquer coisa, se a dor aumentar, aí você vem’. Como eu não estava sentindo dor, só estava sentindo uma cólica, aí eu fui para casa”, explicou.
Quatro dias depois, ela retornou na maternidade, por volta das 13h, pois não sentiu a filha mexer. Ao ser analisada por um médico, ele informou que o bebê estava com os batimentos cardíacos normais e se movimentando. Além disso, Irislene estava com 2 cm de dilatação e o profissional resolveu interná-la.
“Me encaminharam para bater o ultrassom. Chegando lá dentro para bater esse ultrassom foi mais uma espera […] fui bater o ultrassom, chegando lá, esperei de novo, mais um pouquinho. Quando foi minha vez, me atenderam, a médica olhou ‘olha, está dando variação mesmo, eu quase não estou vendo líquido aqui dentro'”, contou.
Horas de espera
Ela disse ainda que, ao invés de a levarem para a sala de cirurgia, foi levada de volta para a poltrona no corredor. Assim, ela teve que esperar outro médico até 20h da noite.
“Quando o médico chegou, ele já chegou espantando. Eu estava na poltrona, antes dele chegar ainda, a neném estava mexendo. Quando ele chegou, ele falou ‘olha, você vai para uma cesárea porque está dando uma variação, o sangue do neném já não está circulando direito”, disse.
Ao chegar no centro cirúrgico, o médico disse que no prontuário estava escrito que a criança estava sem batimentos cardíacos.
“Eu falei ‘não, o coração da minha filha está batendo, ela estava mexendo’. Aí ele falou ‘ah, foi erro lá na frente, a mulher botou errado”, relatou.
Logo em seguida, a levaram para a mesa de cirurgia, mas houve mais uma demora para a chegada do anestesista.
“Quando fizeram a cesárea, a minha bebê já saiu sem vida. Tentaram reanimar, não conseguiram. Aí nisso eu comecei a passar mal, ficar sem ar, começou dar hemorragia […] nisso foi um aperreio do médico, porque o sangue não estancava. Até que ele conseguiu, mas aí não conseguiram reanimar minha filha mais”, lamentou.
A mulher avaliou a situação como uma “negligência” devido a demora e afirmou que havia outras mulheres passando pelo mesmo.
“Isso foi uma negligência grande, porque a partir do momento que ele bateu o ultrassom, que eles viram que a neném já estava em situação crítica, era para eles levarem de imediato para a sala de cirurgia. Para quê ficaram esperando?”, indagou.
Problema recorrente
Em menos de 10 dias, o Roraima em Tempo recebeu três denúncias sobre a Maternidade, que é de responsabilidade do Governo do Estado.
No último dia 14, por exemplo, a mãe de uma paciente relatou que a filha, de 37 anos, estava há 10 dias sofrendo com uma infecção na unidade e nada era feito.
A filha da mulher havia realizado uma cirurgia no dia 5 de julho e, desde então, o estado de saúde só tinha piorado. Disse ainda que os médicos só passavam remédios que não faziam efeito.
Já no dia 19, a tia de uma grávida de 34 anos, com pressão alta, que denunciou a demora para realização do parto da sobrinha. Ela esperou por três dias até conseguir a cesariana.
Nesta sexta-feira (22), o marido de uma paciente , de 38 anos, também relatou demora para realização do parto. A mulher está com 41 semanas de gestação de risco e aguarda desde às 08h30 da manhã desta quinta-feira (21) para ter o bebê.
Além disso, o casal ouviu uma notícia sobre falecimento de uma criança na manhã de hoje por conta da demora na realização do parto na maternidade.
Citada
Por meio de nota, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) afirmou que a Irislene foi devidamente assista pela equipe da unidade e que a informação de negligência não procede.
Do mesmo modo, disse que a Direção Geral da maternidade adotou todos os procedimentos indicados pelo Ministério da Saúde.
Fonte: Da Redação