Quando se fala na Maternidade Nossa Senhora de Nazareth não se pensa em outra coisa: estrutura improvisada que é inadequada para pacientes, filas extensas, demora no atendimento, falta de leitos e o que mais preocupa as mães: as mortes.
Só entre julho de 2022 e fevereiro deste ano, foram mais de 10 denúncias que chegaram ao Roraima em Tempo envolvendo um ou mais desses problemas na maior maternidade do estado.
O caso que mais chamou a atenção da população nas últimas semanas foi o da Gabriela Almeida, de 28 anos. Ela mora em Pacaraima e estava com 41 semanas e seis dias de gestação quando virou notícia ao ‘viralizar’ em um vídeo nas redes sociais.
A mulher entrou em desespero na Maternidade Nossa Senhora de Nazareth no último dia 2 de fevereiro. No chão da unidade, ela implorava para que os médicos realizassem a cesárea.
Com a repercussão das imagens, a secretária de Saúde, a advogada Cecília Lorezon, criticou gestantes que procuram atendimento na unidade. Em um grupo de WhatsApp, a titular respondeu uma reportagem sobre a superlotação da maternidade. No comentário, ela negou a situação e, além disso, disse que há pessoas que “se prestam a dar show”, referindo-se à Gabriela.
A Defensoria Pública de Roraima (DPE-RR), protocolou no dia 10 de fevereiro uma pedido de informações à Sesau após divulgação de denúncias na imprensa sobre as condições e tempo de espera.
Além disso, o Ministério Público de Roraima (MPRR) chegou a abrir um procedimento para apurar o caso da gestante. A reportagem então questionou ao órgão se já havia algo de concreto sobre a investigação, mas não obteve resposta. Por outro lado, Gabriela afirmou que nunca foi procurada pelo MPRR.
Por conta da demora no atendimento das pacientes, muitos bebês morreram. Alguns ainda na barriga da mãe. Esse foi o caso da Maura Alexandre. Ela estava com 9 meses de gestação quando buscou atendimento na Maternidade.
Por duas vezes ela pediu atendimento, mas recebeu a informação que não estava na hora do parto. Ela teve hemorragia e perdeu o filho.
O mesmo ocorreu com a Jade Dias Forechi. Ela estava com 5 meses de gestação e procurou a unidade. Por conta da superlotação, ela denunciou que não recebeu o atendimento adequado e também acabou perdendo o bebê.
Em razão disso, muitas mulheres buscam outros meios. Uma mulher que preferiu não se identificar, por exemplo, disse que passou três dias com feto morto no útero. Em razão da demora, ela teve que pagar cerca de R$ 8,5 mil em uma curetagem na rede privada.
Além da falta de agilidade no atendimento, a Maternidade Nossa Senhora de Nazareth ainda funciona em uma estrutura improvisada. A unidade é conhecida pela população roraimense como “maternidade de lona”, pois está instalada onde antes era o Hospital de Campanha.
Em setembro do ano passado, durante um período de fortes chuvas em Roraima, as pacientes e acompanhantes passaram por situações assustadoras. No dia 18 do referido mês, por exemplo, o pai de um recém-nascido detalhou momentos de terror na maternidade.
O homem contou que estava em casa quando a acompanhante da esposa ligou para relatar a situação caótica na maternidade. O alarme de incêndio tocava, forros caiam, a água invadia a unidade. Ou seja, um momento que deveria ser de felicidade para a família, se tornou frustrante.
A estrutura de tendas e lonas é alugada pelo Governo do Estado. Dessa forma, em agosto de 2021, a Sesau assinou o contrato de aluguel por R$ 10 milhões por um ano. Em seguida, fez um reajuste de 18% e o aluguel passou a ser cerca de R$ 12 milhões. No dia 9 de agosto de 2022, a Sesau renovou o contrato por mais um ano e aumentou o valor para R$ 13 milhões.
Conforme a pasta, o local abrigaria a maternidade, assim como o Hospital Geral de Roraima (HGR). Contudo, em vez do HGR, o Governo instalou o Hospital de Retaguarda, fechado em março deste ano.
Em 2021, a Sesau assinou o contrato em agosto, mas apesar disso, transferiu as pacientes da maternidade para o local no dia 5 de junho. Ou seja, dois meses antes.
Na ocasião, o governador Antonio Denarium (PP) afirmou que a situação duraria apenas cinco meses, enquanto concluía a reforma do prédio. Contudo, um ano e oito meses depois, a reforma da maternidade continua sem previsão de conclusão.
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A reportagem procurou os órgãos fiscalizadores para questionar o que eles têm feito para resolver a situação da maternidade.
O Ministério Público de Contas (MPC) afirmou ter conhecimento de denúncias realizadas por meio da imprensa, relacionadas aos óbitos de bebês ocorridos neste ano de 2023, na estrutura provisória da maternidade. (Este ano morreram 28 bebês apenas nos primeiros 37 dias de 2023, enquanto durante todo o ano de 2022, morreram 20).
Disse ainda que já existem procedimentos abertos que envolvem a saúde pública do Estado, e que a investigação será ampliada para apurar a situação da estrutura provisória e do prédio em reforma da maternidade.
Caso as investigações constatem possíveis irregularidades sobre a utilização de recursos públicos, o órgão irá abrir procedimento específico onde os envolvidos serão denunciados e penalizados.
Por fim, o MPC afirmou que só irá divulgar o andamento dos procedimentos posteriormente, para que não haja prejuízo às investigações.
Já o Ministério Público de Roraima (MPRR) disse que apura falhas no atendimento à população, falta de medicamentos, bem como superlotação da unidade. Disse ainda que o órgão cobrou, na semana passada, agilidade na reforma do prédio.
Além disso, informou que está produzindo um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) a fim de agilizar a entrega da obra. A assinatura deve ocorrer em breve.
O Conselho Regional de Medicina (CRM) não respondeu, assim como a Sesau não deu uma previsão para a conclusão da reforma da maternidade.
Por Lara Muniz
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