O mês de março é marcado pelo Dia Mundial de Conscientização sobre a Epilepsia, comemorado neste sábado (26). Conhecido como Purple Day ou Dia Roxo, a data busca conscientizar a população sobre a doença e combater preconceitos. Ao Roraima em Tempo, a psicóloga Camila Valente, de 27 anos, que é diagnosticada com a doença conta como é conviver com a condição.
Natural do Tucuruí, no Pará, ela viveu as primeiras crises quando se mudou para estudar em Boa Vista. Aos 16 anos, ela recebeu o diagnóstico da doença e conta que com acompanhamento profissional, apoio da família e amigos consegue ter uma vida normal.
“No início eu sofri muito e chorei por uma semana depois de receber o diagnóstico, mas isso não me impediu de viver. Hoje em dia é uma coisa que não tenho vergonha de falar. Se for preciso falar sobre epilepsia todos os dias, eu falo. Eu sou psicóloga há três anos, dou aula para catequese, gosto de sair. E saio bastante. A doença não me limita.”, contou.
Conforme a Liga Brasileira de Epilepsia (LBE), a doença neurológica é identificada como uma alteração temporária e reversível das descargas elétricas cerebrais, o que causa as crises epilépticas. A doença afeta pessoas de todas as faixas etárias e tem causas diversas.
De acordo com Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 50 milhões de pessoas no mundo têm epilepsia. Destas três milhões são brasileiras. Em Roraima, conforme dados da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), neste ano, 7.243 pacientes receberam atendimentos neurológicos, o que também inclui pessoas com a doença.
Preconceito
De acordo com Camila, nela as crises se manifestam devido causas emocionais. Por isso, é preciso tomar a medicação para controlar as crises. Para ela, alguma das limitações causadas pela doença é não poder beber ou dirigir, no entanto, o maior desafio é o medo do preconceito.
“Eu nunca sofri preconceito. Quando eu recebi o diagnóstico eu tive vergonha de contar para outras pessoas? Claro! Mas depois passou porque sempre tive apoio. Ainda há esse preconceito dos antepassados que é uma coisa do demônio, que é uma doença transmissível. Mas não é isso, é uma doença neurológica”, reforçou.
A profissional revela ainda que já atuou com pacientes com o mesmo diagnóstico, o que possibilita uma maior sensibilidade com o tema. Por fim, aconselhou quem também convive com a doença.
“Tive paciente que tinha uma vida normal, mas tinha muita vergonha de ter epilepsia. Então eu trabalhei a autoestima do paciente e mostrei que apesar de ter que tomar medicamento, isso não pode o impedir. A epilepsia não pode ser uma âncora na sua vida que te puxa. Você é capaz de alcançar voos muito maiores”, disse.
Atendimentos para epilepsia em Roraima
O atendimento ocorre na Clínica Especializada Coronel Mota e Hospital Geral de Roraima (HGR) em caso de crise epilética. Conforme a neurologista a Ana Fonseca, na rede estadual os atendimentos são exclusivamente hospitalares, o que não inclui acompanhamento psicológico.
“Às vezes ele tem que realmente passar um tempo internado, fica na nossa enfermaria e posteriormente ele vai fazer o atendimento ambulatorial. A gente faz o controle de orientar tanto o tratamento quanto as medicações que eles têm que fazer uso as medicações disponíveis no SUS”, explicou.
Além disso, a médica reforçou a importância de discutir sobre o tema, bem como a responsabilidade do poder público em promover ações voltadas para a epilepsia, pois ainda há muita estigmatização sobre a doença, o que pode gerar outros problemas para o paciente, como a ansiedade.
“As pessoas não conhecem e não entendem que é uma doença com tratamento. Então, os pacientes têm vergonha de falar, medo e se sentem muitos isolados. Deveríamos ter pelo menos durante esse mês mais informações sobre o assunto, porque é uma doença tão prevalente, de tanto tempo. É difícil que não tenha tanto conhecimento sobre o assunto”, reforçou.
Fonte: Da Redação