Cassação de Jalser mostrou briga pelo poder com Sampaio dentro da Assembleia

Com aumento de orçamento, envios milionários de verbas extras e folha de pagamento inchada, a briga pelo poder terminou na cassação de Renier

Cassação de Jalser mostrou briga pelo poder com Sampaio dentro da Assembleia
Deputado Soldado Sampaio segue no comando da ALE-RR – Foto: Reprodução

As conversas dos bastidores da cassação de Jalser Renier vão muito além do processo que o ex-deputado respondeu. A briga interna pela manutenção do poder pode ter sido o maior motivo da cassação do mandato de Renier e não a quebra de decoro pelo sequestro jornalista Romano dos Anjos

Os deputados estaduais nunca manifestaram apoio ao jornalista. Nenhuma nota de solidadriedade. Nem mesmo quando o Ministério Público prendeu nove militares, um ex-servidor da Assembleia Legislativa e o próprio Jalser Renier, ainda deputado.

Os parlamentares se mantiveram em silêncio sobre o caso até o último voto em plenário no dia da cassação. Antes disso, se fecharam em túmulo.

Mas o que realmente os motivou a expurgar Jalser da ALE-RR? As informações de bastidores dão conta de que havia muito dinheiro e acordos em jogo. Como por exemplo, os valores das folhas de pagamento de gabinete de alguns deputados. Sampaio, por exemplo, tem R$ 1,7 milhão em folha de pagamento, segundo Jalser. Jorge Everton, que fez todo aquele espetáculo diante das câmeras, tem R$ 400 mil.

Além disso, o ex-deputado afirmou que até o senador Mecias de Jesus indica cargos na Casa Legislativa, que somam R$ 400 mil. Vereadores também compartilham do esquema. A própria sobrinha do governador Antonio Denarium, Juliana Garcia, tem indicações na ALE-RR.

Conforme a transparência, a sobrinha de Denarium não é a única familiar dele beneficiada com o dinheiro público. Seu sobrinho, Lucas Gonçalves, recebe R$ 17 mil como assessor da presidência. O rapaz anda dizendo por aí que será candidato a deputado. Ele conta com o apoio da mãe que é secretária titular da Setrabes.

Irmã de Denarium na ALE-RR

Do mesmo modo, a irmã do governador, Vanda Garcia, também é nomeada pela Assembleia. Ela recebe R$ 5 mil mensais. Anteriormente, no início da gestão, Denarium nomeou a irmã na Setrabes com salário de R$ 4 mil. Nomeou ainda o filho dela, Samuel Garcia como chefe de divisão na Secretaria de Cultura com salário de R$ 2,6 mil. Na época, a cunhada do governador, Tânia Soares, gerenciava as duas secretarias.

O amigo mais próximo de Denarium, Disney Mesquita, que também assumiu secretaria no início da atual gestão, tem R$ 100 mil em cargos na Assembleia, conforme Jalser. Inclusive, pai e filho do empresário recebem salário de R$ 17 mil, cada.

De acordo com fontes desta redação, o retorno de Jalser acabaria com todos esses acordos que são fundamentais para a reeleição de Denarium. Por isso, os deputados, beneficiados por esses acordos, se esmeraram em tirar o mandato de Renier. Eles apelaram tanto, que Sampaio chegou a anunciar ao vivo pela TV que Jalser ameaçou o governador de morte para parar as investigações do Caso Romano. Informação essa que ficou em segredo até surgir um pedido de cassação do então deputado. E lembrando que até aí nenhum parlamentar se solidarizou com Romano.

Dinheiro extra

Outro motivo pela briga de poder dentro da ALE-RR seria  o grande volume de dinheiro extra que Denarium enviou para a Casa na gestão de Sampaio. Só de julho até dezembro do ano passado, o governador enviou quase R$ 50 milhões de verba por excesso de arrecadação.

Mas não é apenas por meio de excesso de arrecadação que Denarium enviou mais dinheiro para a gestão de Sampaio. De acordo com a LOA 2022, a Assembleia recebeu R$ 72 milhões a mais no orçamento que no ano passado.

Nesse sentido, contratações com valores exorbitantes ocorrem dentro da Assembleia. Como por exemplo, a de uma empresa de marketing que vai dar palestras, oficinas e workshop por R$ 9,5 milhões. Uma denúncia afirma que a verdadeira missão da empresa é fazer a campanha de reeleição de Denarium.

Outro processo de valor exorbitante aberto na Casa foi o de contratação de empresa de segurança por quase R$ 30 milhões. Uma das justificativas era a segurança dos 24 parlamentares. Depois de denúncia da imprensa, a ALE-RR desistiu do processo.

Complacência

Todo esse montante de dinheiro público, supostamente usado em causa própria, faz com que os deputados sejam complacentes com os projetos e pedidos do Palácio do Governo. Em dezembro, por exemplo, eles aprovaram a criação de mais de 1.100 novos cargos comissionados na estrutura do governo. Votaram os projetos às pressas, na véspera do recesso parlamentar.

Além disso, eles agora tem nas mãos o desafio de aprovar o pedido de Denarium para renovar, mais uma vez, o decreto de calamidade pública por causa da Covid-19. Aprovar o pedido é um desafio porque não há nenhuma razão que justifique a calamidade pela doença em Roraima. Por conta disso, a população demonstrou revolta com o assunto. O motivo é que, com a continuidade do decreto, o governo segue, por mais um ano (e ano de eleições) fazendo compras com dispensa de licitação e sem se preocupar com a fiscalização. Nas redes sociais a população se manifestou de diversas maneiras e se colocou totalmente contra. E ir de encontro a isso será um grande desafio para os deputados neste ano de eleições.

Enfim, Jalser caiu, mas caiu atirando. E agora cabe aos órgãos de controle investigar as denúncias e os acordos políticos que não beneficiam em nada população.

Por Rosi Martins

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