O ator, diretor e roteirista Ben Affleck conquistou, aos 25 anos de idade, o Oscar de Melhor Roteiro Original, junto com Matt Damon, por “Gênio Indomável” (1997). Com isso, ele é o mais jovem vencedor nesta categoria até hoje – é quase dois anos mais novo que o colega. Isso lhe deu prestigio para tocar outros projetos adiante. Porém, eles apareceriam só mais adiante mesmo, vários anos depois. Seu filme seguinte como diretor foi “Medo da Verdade” (2007).
Até lá, ele virou chacota da crítica especializada, virando exemplo de como não atuar. Isso mesmo tendo participado de dois dos maiores destaques de 1998: “Armageddon”, a maior bilheteria; e “Shakespeare Apaixonado”, o vencedor do Oscar. Inclusive, a animação South Park zoou de seu baixo talento dramático em uma das canções satíricas da série. Com exceção da animação de Trey Parker e Matt Stone (que zoa todo mundo mesmo), nem era para tanto. De fato, Affleck não era um gênio na frente das câmeras, mas tinha carisma suficiente para trazer público. Para muitos, isso basta. Afinal, Arnold Schwarzenegger está aí para provar.
Além disso, essa infâmia dá a entender que o ator só faz bomba, o que também não é verdade. O problema é que, quando aparecem, os filmes ruins com ele não parecem bombas normais, mas hecatombes de nível nuclear. Eu mesmo cito apenas dois que chegaram neste patamar: “Contato de Risco” (2003), grande vencedor do Troféu Framboesa de Ouro, o Oscar dos piores; e “Sobrevivendo ao Natal” (2004), uma das comédias mais bobocas do século. O resto (ou a maioria, pelo menos) dá para ver de boa. Sim, estou contando com o criticadíssimo “Demolidor: O Homem Sem Medo” (2003).
O Oscar e eu
Mesmo que os insultos tivessem diminuído, Affleck só fazia as pazes com a crítica quando voltava para trás dos bastidores. E com a Academia também, já seus projetos seguintes sempre conseguiam engatar uma indicação para alguém. “Medo da Verdade”, além de ser um thriller bem interessante, deu uma indicação de Melhor Atriz Coadjuvante para Amy Ryan. Em “Atração Perigosa” (2010), foi a vez de Jeremy Renner, indicado a Melhor Ator Coadjuvante. Apesar da boa qualidade das obras, era sempre assim: uma indicação apenas, sem vitória.
Isso mudou com a estreia do thriller político “Argo” (2012), que virou fenômeno da crítica e da temporada de premiações. Com ele, Ben Affleck foi lembrado por todo mundo como grande diretor, incluindo o Sindicato de Diretores, e sua obra virou uma das apostas mais precoces ao Oscar de Melhor Filme. Quando a Academia anunciou os indicados a Melhor Direção e NÃO citou o cineasta, o mundo caiu em cima. Ou seja, crítica, público e colegas da indústria repudiaram o esnobe absurdo a Ben Affleck. De toda forma, ele saiu feliz da festa: como produtor, levou para casa o Oscar de Melhor Filme. E anunciado por Michelle Obama, então Primeira-Dama dos EUA. Olha a moral!
Dois extremos
Depois disso, como chamou atenção em “Garota Exemplar” (2014) e ninguém deu bola para “A Lei da Noite” (2016), seu mais recente como diretor, seus destaques foram como ator mesmo. Assim, dividiu opiniões com “Batman vs. Superman” (2016), ficou canastrão em “O Último Duelo” (2021) e bem bacana em “Bar, Doce Lar”, do mesmo ano. Ainda voltará ao Universo DC na continuação de “Aquaman” e no solo do “Flash” (se não for cancelado). Pode-se dizer que é uma carreira de respeito, uma montanha-russa que atingiu os dois extremos verticais, com a fé de Hollywood nele sempre de pé.
Para celebrar os 50 anos de Ben Affleck, neste 15 de agosto, recomendo o filme que completa 10 anos no final deste mês: “Argo”. Porém, se quiser maratonar sua filmografia, pode começar nas primeiras parcerias com Kevin Smith. No caso, “Barrados no Shopping” (1995), “Procura-se Amy” (1997) e “Dogma” (1999). Reveja tambem “Armageddon” (1998) e “Pearl Harbour” (2001) e evite “Contato de Risco”.
Júnior Guimarães é jornalista e escreve a coluna Cinema em Tempo. Toda semana aqui no Roraima em Tempo temos uma análise sobre o mundo cinematográfico. No Youtube, Júnior tem um canal onde faz críticas e avaliações sobre cinema.