Há 15 anos, foi lançado “Os Infiltrados”, filme visceral que deu o Oscar a Martin Scorcese

“Os Infiltrados” ainda é um filmaço, marcando a volta do Scorcese-raiz na época e deu ao seu diretor Martin Scorcese o tão sonhado Oscar

Há 15 anos, foi lançado “Os Infiltrados”, filme visceral que deu o Oscar a Martin Scorcese
Foto: Divulgação

A noite de 25 (virando para 26) de fevereiro de 2007 foi de muita euforia e risada. Eu assistia à cerimônia do Oscar 2007 na TV aberta, quando Jack Nicholson e Diane Keaton anunciaram o prêmio de Melhor Filme. Deu “Os Infiltrados”, de Martin Scorcese, um mestre do cinema emergente da década de 1970 que viu suas obras-primas (não só dele, mas também do CINEMA) perderem a estatueta principal. Ah, e era meu filme favorito dentre os cinco indicados, só que minha gargalhada teve outro motivo: o ator e crítico de cinema José Wilker havia decretado, pretensiosamente, horas antes: “‘Os Infiltrados’ não vai ganhar o Oscar de Melhor Filme”. Quebrou a cara.

Se bem que muita gente deve ter imaginado isso também, graças ao histórico de derrotas do cineasta na premiação. Muitos dizem que foi uma compensação – e a Academia adora fazer isso mesmo. E teve até haters (mais de uma década antes da popularização do termo), que faziam questão de dizer que o longa não merecia o prêmio porque não era tão bom quanto “Taxi Driver” (1976), “Touro Indomável” (1980) e “Os Bons Companheiros” (1990). Pois nada disso me importava. Afinal, pra mim, “Os Infiltrados” era melhor que os concorrentes “A Rainha”, “Pequena Miss Sunshine”, “Babel” e, por pouquíssimo, “Cartas de Iwo Jima”. E é um dos meus filmes favoritos deste século.

Obras anteriores

Não deixa de ser curioso ver um filme de Scorcese levar os prêmios de Filme e Direção justamente quando o cineasta não parecia mais se importar com isso. É que suas duas obras anteriores, “Gangues de Nova York” (2002) e “O Aviador” (2004), eram Oscar baits quase descarados. Claro que isso não diminui a qualidades delas (adoro “Gangues”, inclusive), mas dava para perceber em ambos um grau de produção que ansiava por um reconhecimento dourado. “Os Infiltrados” já parece, digamos, mais normal: sem firulas, sem trilha sonora épica, sem close-up nas atuações. É cru, visceral e objetivo como há muito não se via. E, vejam só, foi reconhecido. Parecia um modo da Academia dizer: “Yes, era esse Scorcese que a gente queria!”.

E nós também. Nas duas horas e meia de metragem, o cineasta dá uma aula de tensão, domínio narrativo e de fazer uma ópera com um elenco afinadíssimo. Matt Damon é Colin Sullivan, um rapaz da máfia liderada por Frank Costello (Jack Nicholson, grandioso) que se infiltra na polícia de Boston. Por outro lado, Leonardo di Caprio é Billy Costigan, um cadete da polícia que, coincidentemente, é infiltrado na máfia de Costello.

Óbvio que cada lado saberá que existe um rato no meio deles e os dois infiltrados perseguem um ao outro secretamente, enquanto precisam manter as aparências no lado inimigo, já que todos os alertas foram ligados com força máxima.

Conflitos Internos

Ao adaptar o asiático “Conflitos Internos” (2002), o roteirista William Monaham tornou o jogo de gato e rato menos emotivo e mais irônico e cruel. Basta ver a principal amostra do que ele e Scorcese fizeram, no plot twist do terceiro ato que transforma o melodrama do original em um soco-inglês na cara do espectador. A trilha sonora não-original está bem adequada ao clima de humor macabro que permeia as jornadas dos (anti) heróis. Quanto ao vilão (o declarado, pelo menos), Jack Nicholson tem um empurrão do diretor fotografia Michael Ballhaus, que, na introdução, faz Frank Costello emergir das profundezas aos poucos, revelando um ser que amedronta e faz rir ao mesmo tempo.

Contudo, a porrada mais seca que contribui para o estilo de Scorcese veio de seu braço direito: a editora Thelma Schoonmaker, parceira de longa data do cineasta e uma das responsáveis pela crueza scorcesiana no cinema. Dessa forma, seus três Oscars de Melhor Edição foram trabalhando com ele. Foram “Touro Indomável”, “O Aviador” e, sim, “Os Infiltrados”, onde ela brinca com a montagem paralela entre os dois infiltrados, onde ela brinca com a montagem paralela entre os dois infiltrados, dando uma liga cirúrgica às panorâmicas deles na abertura, e assume a tensão mesmo em momentos sem trilha ou diálogo (como a cena do telefonema).

Com uma equipe tão espetacular e a batuta de um mestre, não tinha como não empolgar um elenco já estelar. Jack Nicholson, Leonardo di Caprio, Matt Damon, Martin Sheen, Mark Wahlberg, Alec Baldwin, Ray Winstone, Anthony Anderson, Vera Farmiga… E todos não menos que incríveis – principalmente Wahlberg, cuja personalidade difícil é a cara desse filme. Sério, não sei como ele perdeu o SAG de Melhor Elenco.

Melhor diretor

Não faz mal. Martin Scorcese pode não ter impactado a história do cinema como fez com sua filmografia da década de 1970, mas nem precisava isso. A prova disso é que já se passaram 15 anos e “Os Infiltrados” ainda é um filmaço, marcando a volta do Scorcese-raiz na época e deu a ele o tão sonhado Oscar. A propósito, no anúncio dos indicados a Melhor Diretor no Oscar 2007, subiram no palco Steven Spielberg, George Lucas, bem como Francis Ford Coppola. Dos quatro diretores mais revolucionários do cinema setentista, só faltou um. Alguém duvidava de quem ganharia o prêmio e subiria no palco para se juntar ao resto da trupe? Nem José Wilker ficou surpreso.

Júnior Guimarães é jornalista e escreve a coluna Cinema em Tempo. Toda sexta-feira aqui no Roraima em Tempo temos uma análise sobre o mundo cinematográfico. No Youtube, Júnior tem um canal onde faz críticas e avaliações sobre cinema. 

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muito bom!

Francisco

Parabéns pelo comentário, o mais preciso sobre mais esta obra de arte do mestre Scorsese. É obfilme dele que mais gosto. O melhor thriller do século 20. Di Caprio arrasa e me surpreende, enquanto as outras feras não nos desaponta, principalmente Nicholson que brinca de atuar e ensina muita gente. Interessante também ver Di Caprio imitando um pouco ao fantástico De Niro.

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