“The Batman” chegou aos cinemas na última quinta-feira e já levantou debates, alguns esquisitos. Primeiro filme que foca no Batman, não nos vilões? O mais realista? O mais sombrio? O melhor? Ou o mais arrastado? Se você acompanha a repercussão bas redes sociais, certamente já viu todos esses adjetivos passando na tela das redes sociais. Também, impossível ficar indiferente quando um novo Batman aporta nos cinemas. São tantas leituras do Homem-Morcego, em obras-solo e em conjunto, que o herói já se tornou um personagem mais cinematográfico que de quadrinhos.
Pensando nessas leituras, especialmente nas carreiras-solo, fiz um Top 10 com os filmes do Batman, do pior ao melhor, na minha opinião. Algumas posições parecendo o óbvias, outras nem tanto. A questão é: onde a obra de Matt Reeves se encaixa nessa lista? Continue a leitura e descubra. É uma maratona e tanto.
10. BATMAN & ROBIN (1997)
Surpresos? Acho que não. Afinal, “Batman & Robin” é uma espécie de obra-prima às avessas. É um dos piores filmes de super-heróis já feitos e um dos maiores exemplos dos males da intervenção de um estúdio. Projetando esse filme para ser fonte de venda de muitos brinquedos com a marca Batman, a Warner esfacelou de vez a atmosfera autoral e sombria que Tim Burton criara para os primeiros filmes. O resultado é uma ruindade inacreditável, com um visual carnavalesco, edição grotesca, atuações vergonhosas e diálogos constrangedores, com a maior coleção das piadinhas mais sem graça que eu já vi. O mais triste é saber que isso tudo foi o que o estúdio idealizou. Uma péssima ideia que quase enterrou o Homem-Morcego no cinema.
9. BATMAN ETERNAMENTE (1995)
Foi aqui que a lambança começou. Incrível como conseguiram reunir vários talentos em um só projeto e fizeram um longa tão fraco. Val Kilmer foi de um grande Jim Morrison a um Batman desconectado do público. Nicole Kidman fez o par romântico mais esquecível dele. Nem o vencedor do Oscar Tommy Lee Jones escapou da caricatura como o vilão Duas-Caras. Alias, ele não suportava trabalhar com Jim Carrey, o Charada, outro vilão que não se leva a sério nem por um segundo. Para finalizar, o diretor Joel Schumacher saiu de dois filmes muito bons (incluindo a obra-prima “Um Dia de Fúria”), mas chegou até aqui sem fazer nada além de obedecer a quem estava pagando a conta. Mesmo assim, “Batman Eternamente” tem um acerto: a canção-tema Kiss From a Rose. E só.
8. BATMAN: O HOMEM-MORCEGO (1966)
O primeiro filme do herói é bizarro e ridículo. Calma, não é um xingamento, mas uma definição que – acredite – está nos próprios créditos iniciais. Assumidamente brega, “Batman: O Homem Morcego” é uma expansão da série de sucesso da década de 1960, que comete a façanha de reunir Coringa, Charada, Pinguim e Mulher-Gato na mesma produção. Bem como na TV, aqui estão aqui todas as piadas, cenários coloridos, planos malignos, armas absurdas (Batman tem um spray repelente de tubarão) e atuações dignas de cosplay de shopping. Deveriam ser pontos negativos, mas a produção assume abertamente o risco da vergonha e entrega uma aventura bem diferentona, movimentada, divertida e nostálgica. Bons tempos.
7. BATMAN: O CAVALEIRO DAS TREVAS RESSURGE (2012)
Quando penso no encerramento da trilogia de Christopher Nolan, penso em como a alta expectativa pode acabar mal. “Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge” tem dois grandes problemas. O primeiro é o roteiro inchado, com várias pontas soltas e um elenco tão grande que não deixou tempo para todo mundo respirar direito (Juno Temple entrou e saiu que ninguém reparou). O segundo é, simplesmente, ser a continuação de um filme que beira a perfeição. A comparação foi inevitável e, claro, a terceira parte perdeu feio. Ainda assim, não é uma obra ruim. O capricho na parte técnica e a força narrativa foram mantidos. Além disso, a atmosfera cumpre a premissa e a trilogia fecha bem o arco do Homem-Morcego. Pena que ele prometeu mais do que cumpriu.
6. LEGO BATMAN: O FILME (2016)
Tudo com Lego fica melhor. Uma das provas disso é essa versão divertidíssima do Homem-Morcego contra seu arqui-inimigo. Que, aliás, é a versão mais espalhafatosa do Coringa desde a série dos anos 1960. O mais impressionante é que “LEGO Batman” é uma paródia assumida dos personagens e, mesmo assim, consegue criar uma trama original e com identidade própria. Duvidando? Procure em outra adaptação uma relação mais simbiótica entre mocinho e vilão, em que um não vive sem o outro. Agora procure em qualquer filme (não de super-herói, mas QUALQUER FILME) em que o vilão faz o que ele consegue aqui, no ato final. Não existe. E olha que o aguardado “Batman vs. Superman” foi lançado no ano anterior, mas essa versão de brinquedo foi muito, mas muito melhor.
5. BATMAN (1989)
Primeiro filme sério do Batman, a obra de Tim Burton inaugurou uma nova era dos super-heróis no cinema. Isso inclui trazer um grande astro, Jack Nicholson; e reinaugurar a cultura de produtos licenciados, como brinquedos e videogames. O filme? É uma belezura. Marcou época e deu vários presentões para nós: o Bruce Wayne inesquecível de Michael Keaton, o Coringa icônico de Nicholson, a trilha de Danny Elfman e a cenografia bem bacana. Tanto que ganhou o Oscar de Melhor Direção de Arte – concorrendo contra “O Segredo do Abismo” e “As Aventuras do Barão Munchausen”. Enfim, uma adaptação que agradou a todo mundo: o público geral, os fãs de quadrinhos, o estúdio e o próprio cineasta, que provou seu talento e ganhou carta branca para o próximo.
4. THE BATMAN (2022)
O fracasso do Universo Compartilhado DC deixou o Batman meio à deriva, clamando por uma tacada certeira do estúdio em projetos-solo. Quando pensávamos que não havia mais nenhum olhar autoral sobre o Morcegão, eis que o diretor Matt Reeves surge para acertar em cheio e salvar o dia. Ou melhor, a noite, já que “The Batman” é noturno, pluvial e exala busca por vingança por todos os poros. E Reeves encontrou a pele ideal em Robert Pattinson, que arrebenta tanto como Bruce Wayne quanto como seu alter ego justiceiro. Sendo mais um que que sai sua bolha para explorar um novo potencial cinematográfico, o novo Batman bebe de David Fincher para se tornar pesaroso e investigativo. Portanto, um excelente passo para uma nova franquia.
3. BATMAN BEGINS (2005)
A visão sóbria de Christopher Nolan era tudo que Batman precisava para ser revivido nos cinemas. Isso porque “Batman & Robin” fez a Warner ter o pé atrás com cada ideia nova sobre o personagem. Porém, o estúdio confiou na proposta promissora de Nolan e lhe deu as chaves de Gotham. O resultado é o mais próximo de realismo que o herói já teve no cinema, com um roteiro palpável e uma origem primorosamente explicada. E fez isso colocando dois vilões não tão famosos fora do gueto quadrinístico: Ra’s Al Ghul e Espantalho. Este último, inclusive, é a chave para uma mensagem sobre a superação do medo, sendo que ambos os vilões fecham o arco psicológico do herói. Uma nova perspectiva que não apenas respeita, mas tambem amplia o legado do Batman.
2. BATMAN: O RETORNO (1992)
Fato: “Batman: O Retorno” é a adaptação mais autoral do herói, dona de uma identidade cinematográfica que desafia a lógica. Isso porque seu diretor não fez um Batman, mas “um filme de Tim Burton”. E, com isso, ironicamente, acabou fazendo o filme mais Batman de todos, como se um não existisse sem o outro. Sim, é confuso, mas só em um mundo normal, o que está longe de ser o caso aqui. Sem amarras e com o universo alinhado a nosso favor, Burton criou uma continuação adulta, gótica, sensual, estilosa e com humor macabro. Sem isso, não teríamos uma das cenas mais eróticas dos anos 1990, que nem é uma cena de sexo: a Mulher-Gato (Michelle Pfeifer, perfeita) lambendo o rosto do Batman. Uma obra-prima das adaptações de quadrinhos.
1. BATMAN: O CAVALEIRO DAS TREVAS (2008)
Filme de super-herói? Thriller policial? Estudo sociopsicológico? Um bom programa de ação? Como pode uma produção que deveria atender a um público jovem ser tudo isso e mais um pouco? Se existia um campo de força que separava as adaptações de quadrinhos do cinema convencional, ela foi estilhaçada por “Batman: O Cavaleiro das Trevas”. Injetando uma profundidade inédita no subgênero, Nolan criou uma neblina intensa sobre a linha que separa o bem e o mal. Dualidade que ganha uma literalidade assombrosa com os vilões. Aliás, Heath Ledger faz estrago com a maior interpretação já feita para o Coringa, ajudando a elevar o patamar do melhor filme de super-herói de todos os tempos.
Júnior Guimarães é jornalista e escreve a coluna Cinema em Tempo. Toda sexta-feira aqui no Roraima em Tempo temos uma análise sobre o mundo cinematográfico. No Youtube, Júnior tem um canal onde faz críticas e avaliações sobre cinema.