Oscar 2022: os indicados a Melhor Filme, do pior ao melhor

Com todos os indicados a Melhor Filme do Oscar 2022 vistos, fiz um ranking do pior ao melhor, na minha opinião, Boa leitura!

Oscar 2022: os indicados a Melhor Filme, do pior ao melhor

Sejamos honestos: metade da lista de indicados a Melhor Filme do Oscar 2022 nem estaria aqui se a Academia fosse justa. Nem vou falar sobre “ano bom” ou “ano ruim”, já que seria covardia comparar com a monstruosa edição de 2020, que tinha “Parasita”, “1917”, “Era uma Vez em Hollywood”, “Coringa” e “História de um Casamento”.

Digo isso porque tinha obras da temporada atual mesmo que poderiam entrar aqui facilmente. Tick, Tick,…BOOM!” e “A Pior Pessoa do Mundo”, pelo menos, tiveram indicações em outras categorias. Já outros, nem isso, como “Identidade”, “Pig”, “Noite Passada em Soho”, “Titane”, “A Lenda do Cavaleiro Verde” e “Um Lugar Silencioso: Parte II”. E todos mereciam vaga na categoria principal.

Mesmo com esses esnobes, há duas boas notícias. Primeiro: a outra metade da lista está primorosa, parecendo uma compensação pelo restante. A segunda: a seleção atual está um tiquinho melhor que a do ano passado. E algo me diz que haverá mais justiça também. Assisti a todos os indicados a Melhor Filme, fiz o ranking abaixo e, agora, vou esperar a cerimônia. Então, será que a Academia e eu concordaremos dessa vez?

10. BELFAST

O diretor Kenneth Branagh criou uma bela história baseada na sua infância na cidade de Belfast, na Irlanda. Um lugar cheio de tensões religiosas e que marcou a vida da família do jovem Buddy, interpretado por Jude Hill. Tem um contraste bem bonito entre o preto-e-branco e o colorido e um elenco muito bom, especialmente Caitriona Balfe e Judy Dench.

O grande problema aqui é que não existe novidade, ousadia, guinada. “Belfast” foge espertamente do melodrama, com uma trilha sonora bem pop, mas faltou um diferencial memorável. É até possível enxergar referências, por exemplo, a “Cinema Paradiso”. Mesmo assim, é pouco para um indicado ao Oscar de Melhor Filme.

9. O BECO DO PESADELO

Guillermo del Toro no fim da fila? Difícil imaginar uma posição dessas para o criador do belíssimo “A Forma da Água” e da obra-prima “O Labirinto do Fauno”. Refilmagem de “O Beco das Almas Perdidas”  (1947), “O Beco do Pesadelo” tem um imenso apuro técnico, especialmente nos cenários, e o mesmo apego do diretor com figuras bem estranhas.

Bradley Cooper brilha como o protagonista charlatão desse enredo macabro, assim como Cate Blanchet como coadjuvante. Apesar de toda a beleza estética, o enredo fica interessante enquanto está voltado para o circo, mas perde força justamente quando sai dele para seguir seu propósito. É bom, mas tinha melhores para entrar na fila.

8. KING RICHARD: CRIANDO CAMPEÃS

Will Smith se supera mais uma vez. Agora como um homem que treinas duas filhas para serem campeãs mundiais do tênis. Baseado na história real do pai das tenistas Venus e Serena Williams, “King Richard: Criando Campeãs” mostra o ator dominando a tela para entregar a trajetória de um treinador incansável, resiliente e muito determinado.

Sim, não há como não se lembrar do brasileiro “2 Filhos de Francisco” e os motivos para isso são claros e plausíveis. E, na comparação, a obra de Reinaldo Marcus Green perde na emoção. Mesmo assim, é uma obra inspiradora e seu único revés é o curto espaço para Serena, justamente a que se tornaria a melhor tenista do mundo. Ela merecia mais espaço.

7. NÃO OLHE PARA CIMA

Adam McKay colocou sua nova sátira na boca do povo. Filme mais comentado da Netflix do ano passado, “Não Olhe Para Cima” traz um tema urgente no momento mais oportuno possível. Uma crítica claríssima sobre o poder nas mãos da ignorância e negacionismo à ciência, que ganha ainda mais potência nos tempos de pandemia do Covid-19.

Só que, apesar da seriedade do tema, é Adam McKay. Nas mãos dele, a crítica se torna avacalhação, resultando em um filme-catástrofe com um tipo diferente de diversão. E fecha com um elenco estelar: Leonardo di Caprio, Jennifer Lawrence, Meryl Streep, Jonah Hill, Cate Blanchett, Mark Rylance, Timothée Chalamet e até Ariana Grande.

6. NO RITMO DO CORAÇÃO

Provavelmente, o filme mais bonitinho da lista. Poderia cair no drama de superação padrão, mas “No Ritmo do Coração” é bem escrito, divertido e foge da pieguice. Além disso, tem personagens cativantes, carismáticos e bem representados pelo elenco. Especialmente Troy Kotsur e Emília Jones, que vivem pai e filha. Um pai surdo e uma filha que canta.

Na verdade, todos são surdos na família, menos a protagonista. Seu drama e seu dilema entre ajudar a família e perseguir seu sonho tomam o espectador. Isso sem precisar apelar, ao contrário. O uso da comunicação não-verbal como elemento de comédia nos rende momentos impagáveis, mas sempre promovendo a acessibilidade e o amor incondicional.

5. DUNA

Segunda maior superprodução ao ano passado, perdendo apenas para o novo “Homem Aranha”, a nova adaptação da obra de Frank Herbert é um colosso. “Duna” traz uma grande história, contada com a grandiosidade que somente um cineasta como Denis Villeneuve poderia dar. E sem intervenções, pois esta versão é bem superior à de 1984.

A primeira grande diferença está no tratamento do roteiro, que explica cada passo sem exposição desnecessária. Alem disso, o elenco está muito bom, mas o que realmente chama a atenção é o preciosismo técnico. Não há nada que não seja bem feito e estonteante aqui. E fique atento: é só a primeira parte. Escrevi mais sobre “Duna” aqui.

4. LICORICE PIZZA

Há quem o considere o melhor filme do ano, há quem o veja como o ponto baixo de Paul Thomas Anderson. Pior é que a admiração e a decepção podem aflorar do mesmo motivo: ser fã demais do cineasta. Sou do time que gostou. “Licorice Pizza” pode não estar entre os maiores do diretor/roteirista, mas é, sim, um dos maiores do ano.

De toda forma, nem foi essa a intenção. A história de amor entre Gary e Alana é leve, agradável e despida de qualquer ambição. Tanto que há diálogos que nem parecem ter saídos de um roteiro de cinema, mas de um casal de familiares, amigos ou vizinhos. Verdadeiras idas e vindas do amor para quem curte um bom e delicioso romance.

3. DRIVE MY CAR

Confesso que me assustei com aquele prólogo de… 40 minutos! Depois percebi que era uma apresentação necessária para entender o protagonista, um homem que não abre mão de dirigir, mas que precisa de um motorista por força de contrato. Não se engane: os motivos dele não são banais e fazem ainda mais sentido depois do começo.

Isso mostra que não há ponto sem nó no roteiro, nem na direção de Ryusuke Hamaguchi. Temos preferências estranhas, manias incomuns, segredos profundos e inspiração das ocasiões mais inusitadas. E “Drive My Car” me pegou inusitadamente. Um filmaço no seu sentido mais amplo, tanto na duração quanto no jeito de ser cinema.

2. AMOR, SUBLIME AMOR

É possível superar um clássico? Steven Spielberg prova que sim. Remake homônimo do grande vencedor do Oscar 1962, o novo “Amor, Sublime Amor” dissipa qualquer dúvida sobre a necessidade de recontar uma história com outra visão. Se dá para acrescentar ou mesmo melhorar, vá em frente sem medo. E Spielberg não teve medo.

Na história de Tony e Maria, agora com Ansel Elfort e Rachel Zegler, a tecnologia atual é usada para repaginar o ambiente e dar-lhe um novo organismo visual. Bem feito de ponta a ponta, o remake melhora até as músicas, principalmente “America”, com a espetacular Ariana DeBose. Sim, ela superou Rita Moreno. E, sim, sou herege com gosto.

1. ATAQUE DOS CÃES

Dia desses, o ator Sam Elliott questionou e até xingou a obra da diretora e roteirista Jane Campion. Sabemos o nome disso. Mesmo porque isso é um dos elementos abordados em “Ataque dos Cães”, uma obra rica em camadas e sutilezas como poucos. Um olhar menos atento não verá nada disso. Porém, se não for seu caso, você se deslumbra.

Começa com um cowboy que inferniza a vida da cunhada, segue com uma improvável evolução de relações e fecha com a explicação do título original “The Power of the Dog”. Bem realizado, cuidadosamente desenvolvido e com um elenco que compreendeu a proposta e desata cada nó lenta e satisfatoriamente. Se perder o Oscar, fechem a Academia.

 

Júnior Guimarães é jornalista e escreve a coluna Cinema em Tempo. Toda sexta-feira aqui no Roraima em Tempo temos uma análise sobre o mundo cinematográfico. No Youtube, Júnior tem um canal onde faz críticas e avaliações sobre cinema. 

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