Três anos depois, a Academia volta a fazer justiça com o melhor filme

A coluna de hoje é uma análise do resultado do Oscar 2023, onde a Academia consagrou “Tudo em Tudo lugar ao Mesmo Tempo”. Boa leitura!

Três anos depois, a Academia volta a fazer justiça com o melhor filme

A Academia consagrou “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”, melhor filme do ano passado. E essa alcunha não é só por causa do Oscar de Melhor Filme e da enxurrada de prêmios que levou ontem. O filme do multiverso dos Daniels foi o melhor mesmo, como eu já falei na matéria de 25 de janeiro, um mês e meio antes da premiação (confira aqui).

Pode parecer uma redundância, mas nem sempre o melhor filme ganha o Oscar de Melhor Filme. A última vez que isso tinha acontecido foi em 2020, com a vitória de Parasita. No ano seguinte, foi a vez de Nomadland, que nem alcançou o pódio dos melhores. Mesmo assim, sua vitória não chegou a incomodar tanto, já a obra de Chloe Zhao é bela e poética.

Contudo, o ano passado foi imperdoável, porque No Ritmo do Coração ganhar de Ataque dos Cães foi um daqueles disparates para entrar na história – tipo Crash vencendo O Segredo de Brockeback Mountain. Ontem, tudo voltou aos trilhos e, com Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, a Academia volta a fazer justiça.

Lado a lado no front

Felizmente, teve outro grande filme que já merecia reconhecimento e acabou surpreendendo nos prêmios. Nada de Novo no Front ganhou nada menos que quatro Oscar, furando os bolões (incluindo o meu) que apostaram que Babilônia levaria os prêmios de Melhor Trilha Sonora e Melhor Design de Produção. Pois o longa alemão tomou os dois de assalto, além das categorias que eu já esperava: Melhor Fotografia e Melhor Filme Internacional (publiquei minhas apostas aqui).

Esse reconhecimento merecido só reforça o absurdo da Netflix ter escolhido Glass Onion: Um Mistério Knives Out como aposta para o Oscar 2023. Nada de Novo no Front já estava o catálogo quando a empresa tomou essa decisão. Será que ninguém lá dentro percebeu a joia que eles tinham em mãos? Felizmente, o Bafta e (agora) a Academia perceberam. Levou como Melhor Filme na premiação britânica e foi o segundo mais premiado no Oscar.

Noite do multiverso…

Mesmo com a consagração dos filmes no geral, os prêmios mais lindos de se ver foram, sem dúvida, os de atuação. Ke Huy Quan chorou e fez a plateia chorar também ao ser premiado como Melhor Ator Coadjuvante. Jamie Lee Curtis ganhou como Melhor Atriz Coadjuvante na primeira indicação de sua longa carreira, deixando Angela Basset (uma das favoritas por Pantera Negra: Wakanda Para Sempre) com cara de paisagem. Ambos levaram por TETLAMT.

E a dona do discurso mais potente foi Michelle Yeoh, que desbancou Cate Blanchett (Tár) como melhor atriz, um prêmio que me deixou dividido. Afinal, Cate fez a melhor atuação de todas, mas a vitória de Michelle – primeira atriz asiática a levar esse prêmio para casa – foi muito importante. No final, Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo fechou com sete Oscar: três para o elenco, três aos Daniels (como produtores/diretores/roteiristas) e um pela edição. Foi a noite do multiverso e da A24, com um resultado melhor que os duas últimas edições, definitivamente.

…e de Brendan Fraser

Entretanto, de todo o elenco vencedor, o que mais precisava de uma estatueta dourada era Brendan Fraser. Sucesso com o público desde George, O Rei da Floresta e A Múmia, o melhor ator por A Baleia foi deixado de escanteio por Hollywood durante muito tempo. Além disso, passou por diversos problemas pessoais e uma agressão sexual dentro da própria Hollywood. Isso até ser “resgatado” pelo diretor Darren Aronofski, que o escalou para interpretar Charlie, o professor obeso do drama.

Com uma prótese muito bem feita, que também rendeu o Oscar de Melhor Maquiagem, Brendan passa toda a sensibilidade e o sofrimento só com o olhar. Austin Butler foi impecável como Elvis, mas ver outra derrota na vida de Brendan, depois de um trabalho tão espetacular, não seria legal. Não se trata de piedade, mas de justiça. E aconteceu. Um grande volta por cima para um ator querido que, enfim, teve sua autoestima devolvida.

Júnior Guimarães é jornalista e escreve a coluna Cinema em Tempo. Toda semana aqui no Roraima em Tempo temos uma análise sobre o mundo cinematográfico. No Youtube, Júnior tem um canal onde faz críticas e avaliações sobre cinema.

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