O Roraima em Tempo teve acesso exclusivo a um documento do Ministério Público (MPRR) que detalha a participação de Jalser Renier (SD) no sequestro e tortura do jornalista Romano dos Anjos.
De acordo com a procuradora-geral Janaína Carneiro, o deputado criou uma “milícia” na Assembleia Legislativa. Ela compara o sequestro do jornalista como um crime que ocorre em “Estados fascistas e ditaduras cruéis”.
O órgão elenca sete situações que evidenciam a participação do parlamentar e sustentaram a prisão preventiva.
Jalser é apontado como mandante do crime contra o apresentador, praticado por uma organização criminosa chefiada pelo parlamentar.
Conforme Janaína, os militares do grupo são altamente treinados física e psicologicamente, e o sequestro foi o ápice dos crimes, “o que pode ser considerado o embrião de uma milícia armada em Roraima”, tal como ocorre no Rio de Janeiro.
Segundo a procuradora-geral, o objetivo do sequestro do jornalista foi a aplicação de castigo pessoal, punição e intimidação.
Além disso, a intenção do grupo criminoso era enviar um recado não só para Romano, mas para todos os jornalistas que criticassem o deputado. Para Janaína, a materialidade dos gravíssimos crimes é incontestável.
A procuradora cita que o Setor de Inteligência deveria atuar em favor da Assembleia, e “não criar um regime de terror contra desafetos políticos de quem quer que seja”.
Janaína também considera que os investigados tinham acesso ao alto escalão das instituições públicas.
Além disso, cita que a ousadia de Jalser é tão grande que ele ameaçou o governador Antonio Denarium (PP) após a criação da força-tarefa para investigar o caso.
É que em novembro de 2020, o deputado e alguns investigados foram ao Palácio do Governo. Jalser exigiu do governador o fim do inquérito.
Ao Ministério Público, o atual presidente da Assembleia Legislativa, à época chefe da Casa Civil, confirmou a ameaça de morte ao governador.
Também em depoimento ao órgão, Denarium assegurou que, durante o encontro com Jalser, “esquentou um pouco os ânimos”.
Jalser também ligou para o delegado-geral da Polícia Civil, Herbert Amorim, dias após a criação da força-tarefa.
Para Janaína Carneiro, o comportamento do parlamentar é suspeito, já que a força-tarefa tinha sido criada há poucos dias e, sequer, havia algum nome envolvido.
Para ela, a atuação do político reforça “periculosidade”, já que ele usava o aparato público para determinar aos subordinados que cometessem crimes.
“A organização era comandada pelo deputado, que detinha o domínio do fato sobre os demais e orquestrava as ações. Apurou-se que eles operavam seguindo estritos padrões de obediência hierárquica, numa estrutura complexa e voltada à prática de ilícitos”, escreve.
Conforme a Polícia Civil, uma organização criminosa especializada em espionagem, inteligência, logística e segurança privada cometeu o crime.
A organização funcionava dentro da Assembleia Legislativa, e tinha como líder o deputado Jalser Renier, de acordo com as investigações.
Formado em grande parte por policiais militares da reserva e da ativa, o grupo, inclusive, tinha uma hierarquia militar, partindo de Jalser, passando pelos coronéis, bem como majores até chegar aos subalternos.
As investigações revelam que Jalser chefiou o grupo dentro da Assembleia Legislativa entre os anos de 2015 e 2021.
Coincidentemente, esse foi o período em que ele esteve à frente da presidência. Depois de afastado da função pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o deputado viu todos os militares serem exonerados da Casa Militar.
Outra prova testemunhal produzida pelos investigadores é o depoimento de um militar. O Roraima em Tempo teve acesso exclusivo às declarações.
Ele disse que o subtenente Clóvis Romero o procurou na primeira quinzena de outubro de 2020, mês do sequestro, para propor que participasse do crime. Clóvis era membro da equipe de segurança pessoal de Jalser.
Ainda conforme o documento, Clóvis disse ao policial que tinha uma “missão tenebrosa” determinada por Jalser. Contudo, o PM relatou ter questionado qual era a “missão” e ouviu a seguinte resposta:
O sequestro do jornalista Romano dos Anjos ocorreu no dia 26 de outubro do ano passado. Bandidos o retiraram de casa, o torturam e em seguida o deixaram em uma área na região o Bom Intento, na zona Rural de Boa Vista.
Romano estava com pés e mãos amarrados com fita adesiva, mas conseguiu se soltar. Como resultado, ele passou toda a noite próximo a uma árvore no Bom Intento. Os criminosos também queimaram o carro do jornalista.
Em depoimento à Polícia Civil, o jornalista disse que os criminosos citaram o nome do governador e do senador Mecias de Jesus (Republicanos). Logo depois, os dois políticos negaram.
Denarium pediu à Polícia Federal que assumisse a investigação do sequestro, mas a Superintendência afirmou que não havia elemento que federalizasse o caso.
Romano relatou que havia saído para comprar sushi com a esposa, Nattacha Vasconcelos, na noite do crime. Ele não percebeu se estava sendo seguido ao ir ao estabelecimento no bairro Pricumã.
Ao chegar em casa, no bairro Aeroporto, fechou o portão, travou o carro, mas não fechou com a chave a porta da residência, pois os cachorros estavam soltos.
Quando jantava com a esposa, ouviu o latido, saiu para ver o que era, mas ao abrir a porta se deparou com três criminosos armados, sendo que um fazia segurança.
Os bandidos colocaram o casal no quarto, pediram dinheiro e perguntaram onde ficava o cofre. Eles algemaram Romano que também teve boca e olhos vedados com fita.
Em seguida, um dos sequestradores levantou o jornalista, por meio de “técnica típica” que os policiais usam para conduzir presos.
Na sala da residência, pediram a chave do carro. O jornalista indicou onde estava e pediu que deixassem a carteira com documentos.
Os criminosos mandaram que ele calasse a boca, usaram novamente fita, desta vez do queixo até a parte de trás da cabeça, o colocaram na parte de trás do veículo e deixaram o imóvel.
Pararam o carro e colocaram Romano em outro veículo, que acreditou ser uma caminhonete, “pela altura e barulho do motor a diesel”.
Depois, o jornalista foi tirado do carro, retiradas as algemas, mas as mãos foram amarradas por uma corda. Em seguida colocaram um capuz na cabeça do apresentador.
Romano disse à Civil que um dos bandidos falou: “Você gosta de denunciar, né?”. Outro criminoso, que tentava falar em espanhol, perguntou: “Você gosta de denunciar o Denarium? Você gosta de denunciar o senador Mecias?”. Depois de questionado, ele foi agredido no peito, joelho e braços.
O jornalista contou que outra pessoa, que ele não tinha ouvido a voz até então, disse: “Ok! Acabou! Vamos!”.
Após a ordem do suposto líder, ele foi abandonado na região, que se tratava do Bom Intento, zona Rural de Boa Vista, onde foi encontrado na manhã do dia 27 de outubro.
Ele disse que com muito esforço conseguiu desatar o nó da corda, mas não conseguiu levantar os braços para tirar a fita dos olhos.
Gritou por socorro durante as 12 horas que ficou desaparecido e esperou amanhecer. O apresentador conseguiu tirar a venda com ajuda da ponta de um galho.
Depois, viu, com muita dificuldade, uma motocicleta e pediu ajuda. O servidor da concessionária de energia o reconheceu e o ajudou. A Polícia Militar e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foram chamados para socorrê-lo.
Por Redação
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