O senador Chico Rodrigues (PSB) visitou a Terra Indígena Yanomami na manhã desta segunda-feira (20). O parlamentar foi muito criticado por organizações que representam indígenas por fazer parte da Comissão Temporária sobre a Situação dos Yanomami, assim como os senadores Mecias de Jesus (Republicanos) e Hiran Gonçalves (PP).
Ainda ontem, a Urihi Associação Yanomai divulgou nota onde avalia a visita de Chico Rodrigues na região como “indesejada e desrespeitosa”.
“Na manhã desta segunda, lideranças tradicionais da região do Surucucu foram surpreendidos com a visita indesejada e desrespeitosa do senador Chico Rodrigues […] Não aceitamos a presença destes transgressores dentro do nosso território sagrado. Nosso protocolo de consulta deve se consultado e respeitado, mediante ações, decisões e visitas que podem afetar os direitos da população Yanomami”, ressaltou.
A entidade ainda relembrou a fala do senador durante entrevista na última semana, onde chamou indígenas Yanomai de “primitivos“.
“Ao ser entrevistado, o senador Chico Rodrigues utilizou um termo racista e pejorativo, ao se dirigir a população Yanomami como ‘índios primitivos'”, disse.
Após repercussão da eleição que determinou a composição da Comissão Temporária sobre a Situação dos Yanomami, várias organizações de representação indígena repudiaram a presença dos senadores Chico Rodrigues, Mecias de Jesus e Hiran Gonçalves por serem “favoráveis à mineração ilegal”.
Conforme a Hutukara Associação Yanomami, Chico Rodrigues era dono de avião que circulava no garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami. Além disso, em 2020, agentes da Polícia Federal o flagraram com R$ 33 mil na cueca. Com ele, os agentes encontraram uma pedra que suspeitava ser uma pepita de ouro.
Além disso, o texto relata que o senador disse em entrevista à Globo News, nesta quinta-feira (16), que o povo Yanomami é a “última etnia do planeta no século 21 que ainda é primitiva, totalmente primitiva”.
“Lamentavelmente, a fala desse senador mostra seu total desconhecimento da realidade do povo Yanomami, não conhece a nossa cultura, a nossa crença. Como autoridade, ao nos chamarmos de primitivos só demostra seu preconceito, racismo e discriminação. Um senador que dá mal exemplo, nem deveria estar no poder”, diz trecho do documento.
A nota, por outro lado, rebate o posicionamento do senador e considera a fala dele como colonizadora.
“Repudiamos com veemência essa fala colonizadora, nos reduzindo a incapazes. Nós não somos primitivos. Temos conhecimentos. Somos os povos da floresta. Somos sabedores e temos nosso próprio pensamento. E somos filósofos de tudo que existe na nossa vida com a Mãe-Terra”.
Sobre o senador Mecias de Jesus, a associação diz que ele também não deveria fazer parte da comissão. Ela então relembra que em 2019, a empresa Voare, única que presta viagens aéreas para a TIY o denunciou por cobrança de propina, achaque e fraude em licitação.
Além disso, destaca Mecias como responsável pelas indicações no Dsei-Yanomami, que resultaram na falta de medicamentos e atendimentos médicos.
“No governo de Jair Bolsonaro, o senador foi nomeado para ‘cuidar da Terra Yanomami’, passando a
fazer as indicações para a coordenação do Distrito Sanitário Especial Indígena. Foram indicações negativas para os Yanomami e Ye’kuana, irresponsáveis e criminosas, com falta de medicamentos e atendimentos médicos. A corrupção se instalou no distrito e a nossa saúde foi negligenciada e muitas mortes aconteceram, um verdadeiro plano de genocídio e extermínio do nosso povo”.
Do mesmo modo, a Hutukara repudiou a participação do senador Hiran Gonçalves na comissão. De acordo com a associação, o parlamentar tem como grande aliado e apoiador o governador de Roraima, Antônio Denarium (PP), incentivador do garimpo em Roraima.
Assim, a nota ressaltou que o Denarium sancionou, em 2021, uma lei de sua própria autoria, que autorizava o garimpo em Roraima com o uso de mercúrio. Além disso, ainda sancionou outra lei que proibia a destruição dos bens de garimpo apreendidos em terras indígenas.
Da mesma forma, outro ponto que a Hutukara considerou importante destacar é que Hiran nunca se posicionou na Câmara sobre PLs que prejudicam os indígenas.
“Enquanto deputado federal, Hiran Gonçalves,nunca se posicionou contra o PL490, que prevê alterações nas regras de demarcação de terras indígenas; PL191, que autoriza a mineração e construção de hidrelétricas em terras indígenas e o Marco Temporal, que altera a política de demarcação de terras indígenas”.
Por fim, a nota diz que os três senadores são inimigos dos povos indígenas de Roraima. E então diz que eles é quem deveriam responder pela crise que os Yanomami enfrentam.
“Foram 570 crianças mortas durante o governo Bolsonaro com o apoio desses senadores. Nós temos o nosso protocolo de consulta da Terra Yanomami, deveríamos se consultados, temos o direito de receber e de negar a presença de qualquer autoridade na nossa Terra. Não queremos esses políticos sujos acompanhando as atividades humanitárias e nem de desintrusão do garimpo ilegal no nosso território, que é um território sagrado para o nosso povo”, finaliza o texto.
Fonte: Da Redação
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