No estado brasileiro em que 95% da população depende da saúde pública, pacientes convivem com longos atrasos na busca por cirurgias e incertezas na continuidade dos serviços.
O início de 2025, por exemplo, rendeu preocupação e insegurança aos pacientes da Clínica Renal de Roraima pelo Sistema Único de Saúde (SUS), através da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau). Em fevereiro, a unidade suspendeu os atendimentos desses usuários por conta de uma dívida de R$ 10,8 milhões acumulada pela Pasta.
Como a Sesau ainda não pagou parte desse valor dentro do prazo definido pela clínica, os serviços aos conveniados via SUS pelo Estado foram suspensos e cerca de 350 pacientes crônicos foram afetados.
Cirurgias
No início deste mês, o Grupo Égia de Comunicação repercutiu o caso da dona Ivelta da Silva Sousa, de 55 anos. Segundo a família, ela tinha conseguido na Justiça o direito a uma cirurgia cardíaca na rede estadual. Mesmo assim, esperava há mais de 20 dias pelo procedimento.
Ainda em abril, Gervásio Dutra, de 57 anos, também falou com a reportagem da TV Imperial. Ele, por sua vez, disse estar à espera de uma cirurgia nos dois joelhos há mais de um ano e atribuiu a demora à empresa responsável pelo procedimento, que presta serviços ao Governo do Estado.
“Meu problema são as duas pernas. Devido eu ir trabalhando, trabalhando, desgastou os ossos. Eu vim para fazer a cirurgia e a cirurgia foi suspensa. Eu estou desde janeiro correndo atrás disso sem quase poder andar, com muita dificuldade. As vezes as pernas travam, eu caio. Está muito difícil para mim sem eu poder trabalhar”, explicou o homem.
Para o paciente, a Sesau deveria acompanhar melhor o trâmite dos pedidos para cirurgias. “Devia ter pelo menos uma previsão, porque uma pessoa que trabalha em uma empresa, presta serviço para o Governo, eu acho que o Governo deveria cobrar dessa empresa a responsabilidade de ter pelo menos uma previsão para o paciente. Eu creio que era o mínimo que deveria fazer”, pontuou Gervásio.
Operações
Enquanto a população sofre em busca de saúde de qualidade, a Secretaria de Saúde é alvo constante de operações da Polícia Federal.
Uma delas foi a Desvid-19, deflagrada em outubro de 2020 para investigar o desvio de cerca de R$ 20 milhões em recursos públicos destinados ao combate à Covid-19 em Roraima. As apurações apontaram fraudes em licitações na Secretaria de Saúde do Estado, com indícios de superfaturamento e pagamentos irregulares na compra de EPIs e testes rápidos.
Outra que chamou a atenção foi a Operação Escapulário, deflagrada em agosto de 2023, que investigou empresário e odontólogos do Hospital Geral de Roraima por suspeita de direcionamento em licitações para fornecimento de materiais odontológicos com preços até 1.000% acima da tabela do SUS. Além disso, pacientes eram orientados a procurar a Justiça para realizar procedimentos em uma clínica particular ligada ao grupo investigado, mesmo havendo recursos disponíveis no HGR.
A mais recente foi a Operação Higeia, deflagrada em fevereiro de 2024. Ela investigou um esquema de fraudes na contratação de serviços de traumatologia e ortopedia pela Secretaria de Saúde do Estado. O foco foi a adesão a uma Ata de Registro de Preços da Sesau do Acre, resultando em um contrato de mais de R$ 30 milhões com a empresa MedTrauma. As investigações apontaram ausência de estudo técnico prévio, indícios de direcionamento, superfaturamento e conluio para apresentação de orçamentos fraudulentos.
Um dos alvos da Operação Higeia foi a então secretária de Saúde, Cecília Lorenzon, que chegou a ser afastada por determinação da Justiça.
Fonte: TV Imperial