O índice de mortes entre crianças indígenas e a atividade do garimpo ilegal aumentaram em Roraima em 2020.
Os dados são do Relatório Violência Contra os Povos Indígenas do Brasil publicado pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi). O levantamento é feito por meio de informações da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai).
Conforme o documento, Roraima se manteve como o segundo estado com a maior mortalidade infantil entre indígenas. Ocorreram 162 mortes durante o ano.
Ao todo, o Cimi indica que houve 776 óbitos de crianças de 0 a 5 anos no Brasil em 2020. De acordo com o estudo, as mortes demonstram omissão do poder público. O maior registro dos casos ocorreu no Amazonas, com 250 casos.
“Entre as mortes registradas, verificamos causas evitáveis como anemia, desnutrição, diarreia, infecção por Covid-19, morte sem assistência e pneumonia, entre outras”, diz o relatório.
Garimpo ilegal
Da mesma maneira, também houve aumento de 30% de área desmatada pelo garimpo na Terra Indígena (TI) Yanomami, no Amazonas, assim como em Roraima. Segundo o estudo, a área destruída é equivalente a 500 campos de futebol.
“A invasão garimpeira, que já era intensa em anos anteriores, continuou se espraiando em 2020. A total inoperância do governo diante da escalada de violência contra os Yanomami é assustadora, mas não inesperada”, relata o documento.
O relatório diz que os conflitos entre os invasores e as comunidades indígenas são frequentes e vêm se intensificando. É o que demonstram as seguidas denúncias da Hutukara Associação Yanomami (HAY) também divulgadas pelo Roraima em Tempo.
Conflitos em Terras Indígenas
Em fevereiro deste ano, o governador Antonio Denarium (PP) aprovou uma lei que autorizava a exploração do garimpo no estado. Depois disso, o Supremo Tribunal Federal (STF) derrubou o texto.
Contudo, nesse meio tempo, a Terra Yanomami teve conflitos armados entre indígenas e garimpeiros logo após os invasores atacarem a tiros e bombas as comunidades.
Com isso, as entidades de defesa dos povos indígenas acionaram o STF para que mandasse retirar os invasores da região. Já em junho, os ministros aceitaram o pedido, e, desde então, a PF faz operações TI.
Para conseguirem a ordem judicial, as organizações disseram que havia risco de genocídio de indígenas, pois os garimpeiros levavam a Covid-19, aumentando os casos entre os povos.
Assim, o STF entendeu que o governo foi omisso, não montou estratégias e demorou para fazer um plano de contingência. Por fim, ordenou a criação de barreiras sanitárias, o que, até hoje, não vem sendo cumprida.
Assassinatos
Roraima também registrou o maior número de assassinatos de indígenas em 2020. Conforme o estudo, o estado tem 66 casos. Em seguida estão o Amazonas (41) e Mato Grosso do Sul (34).
“Entre as causas das mortes estão agressão por meio de disparo de arma de fogo, agressão por meio de objeto cortante ou penetrante e agressão por meio de objeto contundente”, diz o texto.
O Cimi destaca ainda o assassinato de dois jovens indígenas. Eles foram atacados no meio da floresta e mortos a tiros por garimpeiros em junho de 2020.
Conforme o texto, as vítimas estavam em um grupo de cinco indígenas, quando dois invasores que estavam em uma pista clandestina atiraram e acertaram um dos jovens. Eles correram, os garimpeiros perseguiram o grupo e, em seguida, atingiram outra vítima.
À época, eles informaram a Fundação Nacional do Índio (Funai), Polícia Federal (PF) e o Ministério Público Federal (MPF) para providências.
Fonte: Da Redação