
O que começou com um treino de corrida na zona rural de Boa Vista, terminou em dor, angústia e incerteza. No dia 29 de março, quatro atletas da equipe Runners Team foram atropelados por uma motorista bêbada na região do Bom Intento. Um deles ficou em estado grave após sofrer traumatismo craniano e está em coma. A esposa dele, Jeyssiane Gabriella, amigos e familiares vivem, desde então, uma rotina marcada por medo, orações e um apelo: justiça.
“É uma coisa que a gente tenta não revisitar, mas não tem como, porque querendo ou não, fica gravado”, desabafou Jeyssiane, que também foi vítima do atropelamento, em entrevista à TV Imperial. A mulher, que sofreu escoriações e uma fissura no pé, conta que as cenas do acidente seguem em sua mente. Além da ausência do marido em casa, ela também lida com as perguntas inocentes dos filhos do casal, de apenas 3 e 5 anos.
“Os nossos filhos ainda não sabem o que de fato aconteceu. Eles perguntam pelo pai, mas eu ainda não consigo externar e falar para eles o que de fato aconteceu, onde o pai deles está. E está sendo bem difícil. Agora dia 21 o nosso filho vai fazer 4 anos, e dia 17 de maio o outro vai fazer seis. A gente não sabe se o pai vai estar presente e eles vão perguntar”, disse Jeyssiane emocionada.
Motorista responde crimes em liberdade
A condutora que causou o grave acidente, segundo a Guarda Civil Municipal (GCM), estava em visível estado de embriaguez no momento do ocorrido. Ela tentou fugir após atropelar o grupo, mas os corredores a impediram. A mulher foi presa em flagrante, mas acabou sendo liberada em audiência de custódia.
Diante da decisão, a equipe Runners Team chegou a publicar uma nota de repúdio nas redes sociais. Para eles, a soltura da motorista “é um precedente perigoso e envia uma mensagem equivocada à sociedade: que a embriaguez ao volante e o risco de colocar a vida dos outros em perigo não têm consequências”. Agora, a motorista responde pelos crimes em liberdade.
A esposa do atleta descreve a situação como revoltante. “Como nós ficamos? Como eu fico? Esperando todos os dias o meu marido voltar para casa, e eu não sei se ele vai voltar […] Foi questão de dois minutos que mudaram quatro vidas para sempre. Dois minutos. E a pessoa vai continuar a vida dela normalmente. E como a gente fica?”, questiona Jeyssiane.
‘Impunidade’
Esse sentimento não é apenas da família do atleta. Ele também é compartilhado por pessoas como a Eduvânia Melo, servidora pública e também corredora do Runners Team.
“Nós continuamos ainda com sentimento de impunidade do caso, porque até o presente momento não houve da parte da Justiça nenhum tipo de punição da condutora. Infelizmente, o nosso atleta continua em estado grave. Não houve melhora no quadro dele, uma pequena melhora. E até hoje a gente, as famílias dos quatro atletas envolvidos, eles continuam muito fragilizados, e nós também, os demais atletas da equipe, continuamos fragilizados”, pontuou a mulher.
Mesmo diante do cansaço, da revolta e da incerteza, a fé se mantém como refúgio. “A justiça do homem pode demorar, mas a gente sabe que a de Deus não falha”, concluiu a esposa da vítima, Jeyssiane.
Fonte: Da Redação