Com 45 anos e apanhando do tempo, “Rocky: Um Lutador” continua de pé

A matéria é uma análise rápida do fenômeno “Rocky: Um Lutador”, que completa 45 anos hoje. Boa leitura!

Com 45 anos e apanhando do tempo, “Rocky: Um Lutador” continua de pé

24 de março de 1975, Richfield Coliseum, Ohio, EUA. A lenda do boxe Muhamad Ali estava no ringue lutando contra Chuck Wepner, alguns meses depois da luta do século com George Foreman. Claro que Ali era o favorito e que sua vitória era tida como certa. O que ninguem esperava é que o adversário o derrubaria no 9° Round e que aguentaria todas as pancadas da lenda até o 15° Round. Quando Ali deu o soco que seria o nocaute, Wepner caiu, levantou e cambaleou igual a um zumbi, mas se recusava a ficar no chão (como você pode ver no registro da luta aqui).

Enquanto isso, um jovem nova-iorquino de 29 anos assistia à luta pela televisão. Era um ator tão pobre, de papeis tão pequenos e secundários, que ele tinha vendido o próprio cachorro de estimação, Butkus, para continuar sustentando a si e à esposa Sacha Czack, com quem se casou no ano anterior. O que começou como distração terminou em inspiração. Michael Sylvester Gardenzio Stallone (ou, simplesmente, Sylvester Stallone) viu essa luta até o fim e admirou o desempenho da pessoa que estava no ringue. O vencedor Muhamad Ali? Não. Ele admirou Chuck Wepner, o cara que aguentou apanhar. Daí, veio o estalo.

Ali vs. Wepner: luta inspiradora

Stallone, um lutador

Stallone escreveu o roteiro de “Rocky: Um Lutador” em poucos dias. Esperto, ele viu a oportunidade de alavancar sua carreira de ator e, mesmo com os estúdios lhe oferecendo mais de 200 mil dólares pelo script, recusou todas as ofertas porque queriam escalar outros atores. Ele queria ser o protagonista e só venderia esse roteiro sob essa condição. Até que a United Artists, por meio dos produtores Robert Chartoff e Irwin Winkler, ofereceu o valor “irrisório” de 35 mil dólares, deixando-o ser o Rocky Balboa. O diretor escolhido foi John G. Avildsen, fizeram um mês de filmagens e o filme estreou em 3 de dezembro de 1976 – exatos 45 anos.

Poucos dias depois, “Rocky: Um Lutador” se torna a maior bilheteria do ano. Poucos meses depois, é o grande vencedor do Oscar 1977, levando três prêmios, incluindo Melhor Filme. Ninguém imaginava isso. Alguns anos depois, veio a continuação, “Rocky II: A Revanche” (1979) – no qual foi promovido a diretor. Stallone alcançou o estrelato a ponto de ser convidado para protagonizar “Rambo: Programado Para Matar” (1982) e acabar transformando o personagem-título no seu segundo símbolo, no mesmo ano do lançamento de “Rocky III: O Desafio Supremo”. Definitivamente, ele era um astro.

Adrian e Rocky: romantismo

Filme certo na hora certa

O que torna essa história mais incrível é que “Rocky” foi um azarão por quatro vezes, mas superou a condição em todas. A primeira delas foi artística. Stallone era um sujeito que mal tinha o que comer e um ator invisível, mas foi capaz de criar uma das histórias mais inspiradoras que o cinema já produziu. O impacto foi ainda maior por ter sido no meio da década de 1970, já que dois eventos tinham deixado o moral dos EUA em frangalhos: a renúncia do presidente Richard Nixon, por causa do Escândalo Watergate e o abalo no próprio senso de democracia ianque; e a Guerra do Vietnã, que fez os soldados americanos voltarem para casa moralmente derrotados. Com os EUA precisando de uma injeção de ânimo e uma força motivadora, a estreia de “Rocky” bateu como um gancho de direita no público.

É que o longa conta a história de um boxeador pobre que vive uma vida humilde. Entretanto, é convidado pelo campeão dos pesos-pesados Apolo Creed (Carl Weathers) para a honra de lutar contra ele no ringue. Para Creed, trata-se de um golpe publicitário e um plano B para evitar perder dinheiro com uma luta já programada, mas cujo outro lutador estava impossibilitado de comparecer. Para Rocky Balboa, porém, era um oportunidade séria de provar seu valor. E, ao longo da luta final, o público começa com um olhar cético e termina gritando o nome dele. O público de fora também: com mais de 200 milhões de bilheteria, a obra alcançou o topo do mundo em 1976. Dentro e fora da tela, deixou de ser azarão pela segunda e terceira vez.

Rocky: pronto para o que der e vier

Uma linda história de amor

A quarta vez foi no Oscar. “Rocky” ganhou dez indicações, incluindo Melhor Ator e Melhor Roteiro Original, ambas para Stallone. Para Melhor Filme, enfrentou nada menos que as obras-primas “Rede de Intrigas”, de Sidney Lumet; “Todos os Homens do Presidente”, de Alan J. Pakula; e “Taxi Driver”, de Martin Scorcese. Nocaute em todos: “Rocky” levou os prêmios de Melhor Filme, Melhor Diretor (para Avildsen) e Melhor Edição. O próprio ator não levou nenhum prêmio para si, mas nada tira o fato de que ele criou essa história e que é por causa dele que essa festa estava acontecendo. Tanto que os produtores oscarizados chamaram Stallone para também subir no palco na entrega do maior prêmio do cinema.

Na escadaria: cena inesquecível

Os frutos estão por aí, pois foram várias continuações de “Rocky”, além dos filmes “Creed: Nascido para Lutar” (2015), “Creed II” (2018) e um terceiro em produção. Alem disso, temos várias obras que, de certa forma, homenageiam o conto do boxeador (a cena da escadaria é uma das mais imitadas e parodiadas da história). Temos Sylvester Stallone como grande astro de Hollywood e suas contribuições ao cinema de ação. Por fim, temos um filme aniversariante de 45 anos que, mesmo apanhando do tempo, continua de pé, honrando seu título. Assim, é uma história de resistência, autossuperação e, também, uma linda história de amor desde sua gestação. Afinal, sabe o que Stallone fez com o cachê do roteiro, lá em 1975? Comprou seu cachorro Butkus de volta.

 

Júnior Guimarães é jornalista e escreve a coluna Cinema em Tempo. Toda sexta-feira aqui no Roraima em Tempo temos uma análise sobre o mundo cinematográfico. No Youtube, Júnior tem um canal onde faz críticas e avaliações sobre cinema.

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