Comissão sobre crise Yanomami é composta por senadores polêmicos

Três senadores que compõem a comissão já deram declarações pró-garimpo; organização que representa os Yanomami pediu revisão dos integrantes

Comissão sobre crise Yanomami é composta por senadores polêmicos
Senadores Mecias de Jesus, Hiran Gonçalves e Chico Rodrigues – Foto: Reprodução

A Comissão que acompanha a crise que vive os indígenas Yanomami é composta por senadores polêmicos. Ela foi criada no dia 15 de fevereiro.

São eles: Chico Rodrigues (PSB) como presidente; Eliziane Gama como vice-presidente (PSD-MA); Hiran Gonçalves (PP) como relator; Mecias de Jesus (Republicanos) como representante; bem como Humberto Costa (PE).

No entanto, desde a sua criação a comissão tem causado reprovação de organizações que representam os Yanomami. Também há informações que a ida de Chico Rodrigues sozinho à TI Yanomami no meio do feriado de Carnaval, gerou mal-estar entre os governistas.

‘Pró garimpo’

Dos cinco senadores que compõe a comissão, Chico, Mecias, bem como Hiran já deram declarações a favor do garimpo. O que gerou nota de repudio da Hutukara Associação Yanomami e outras entidades. O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) também pediu a revisão dos integrantes do grupo.

Chico Rodrigues

Conforme a Hutukara, Chico Rodrigues era dono de um avião que circulava no garimpo ilegal na Terra Yanomami. Além disso, em 2020, agentes da Polícia Federal o flagraram com R$ 33 mil na cueca. Com ele, os agentes também encontraram uma pedra que suspeitaram ser uma pepita de ouro.

Além disso, o senador disse em entrevista à Globo News, no dia (16), que o povo Yanomami é a “última etnia do planeta no século 21 que ainda é primitiva”.

“Lamentavelmente, a fala desse senador mostra seu total desconhecimento da realidade do povo Yanomami. Não conhece a nossa cultura, a nossa crença. Como autoridade, ao nos chamar de primitivos só demostra seu preconceito, racismo e discriminação. Um senador que dá mal exemplo, nem deveria estar no poder”, diz trecho do texto.

A nota, por outro lado, rebate o posicionamento do senador e considera a fala dele como colonizadora.

“Repudiamos com veemência essa fala colonizadora, nos reduzindo a incapazes. Nós não somos primitivos. Temos conhecimentos. Somos os povos da floresta. Somos sabedores e temos nosso próprio pensamento. E somos filósofos de tudo que existe na nossa vida com a Mãe-Terra”.

Mecias de Jesus

Sobre o senador Mecias de Jesus, a associação diz que ele também não deveria fazer parte da comissão. Ela então relembra que em 2019, a empresa Voare, única que presta viagens aéreas para a TIY o denunciou por cobrança de propina, achaque e fraude em licitação.

Além disso, destaca Mecias como responsável pelas indicações no Dsei-Yanomami, que resultaram na falta de medicamentos e atendimentos médicos.

“No governo de Jair Bolsonaro, o senador foi nomeado para ‘cuidar da Terra Yanomami’, passando a
fazer as indicações para a coordenação do Distrito Sanitário Especial Indígena. Foram indicações negativas para os Yanomami e Ye’kuana. Irresponsáveis e criminosas, com falta de medicamentos e atendimentos médicos. A corrupção se instalou no distrito e a nossa saúde foi negligenciada. E muitas mortes aconteceram. Um verdadeiro plano de genocídio e extermínio do nosso povo”.

Hiran Gonçalves

Do mesmo modo, a Hutukara repudiou a participação do senador Hiran Gonçalves na comissão. De acordo com a associação, o parlamentar tem como grande aliado e apoiador o governador de Roraima, Antônio Denarium (PP). Ele também é um incentivador do garimpo no estado.

Assim, a nota ressaltou que o Denarium sancionou, em 2021, uma lei de sua própria autoria, que autorizava o garimpo com o uso de mercúrio. Além disso, ainda sancionou outra lei que proibia a destruição dos bens de garimpo apreendidos em terras indígenas.

Da mesma forma, outro ponto que a Hutukara considerou importante destacar é que Hiran nunca se posicionou na Câmara sobre PLs que prejudicam os indígenas.

“Enquanto deputado federal, Hiran Gonçalves, nunca se posicionou contra o PL 490, que prevê alterações nas regras de demarcação de terras indígenas; PL 191, que autoriza a mineração e construção de hidrelétricas em terras indígenas; e o Marco Temporal, que altera a política de demarcação de terras indígenas”.

Por fim, a nota diz que os três senadores são inimigos dos povos indígenas de Roraima. E então afirma que eles é quem deveriam responder pela crise que os Yanomami enfrentam.

“Foram 570 crianças mortas durante o Governo Bolsonaro com o apoio desses senadores. Nós temos o nosso protocolo de consulta da Terra Yanomami. Deveríamos se consultados. Temos o direito de receber e de negar a presença de qualquer autoridade na nossa terra. Não queremos esses políticos sujos acompanhando as atividades humanitárias e nem de desintrusão do garimpo ilegal no nosso território, que é um território sagrado para o nosso povo”, finaliza o texto.

E os outros?

Embora a comissão tenha como objetivo defender os interesses indígenas, pouco se ver, ou nada se ver a respeito da atuação dos outros senadores sobre o assunto. Enquanto os senadores de Roraima estão preocupados em levantar a bandeira em apoio ao garimpo.

Problema antigo

Em suma, vale lembrar que as denúncias sobre a presença de garimpeiros na TI Yanomami, ataques aos indígenas, doenças e mortes não são de agora. No entanto, há indícios que o Governo Bolsonaro ignorou os relatos.

Fonte: Da Redação com informações do Metrópoles

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