O estado de Roraima apresentou o maior índice de mortalidade materna do Brasil em 2022. É o que aponta um levantamento feito pelo Observatório da Saúde da Umane a partir de dados do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM), do DataSUS.
Conforme o estudo, a taxa nacional de mortalidade materna do país naquele ano foi de 54,5 a cada cem mil habitantes. Roraima apresentou um índice quase três vezes maior, com 145,2 óbitos a cada cem mil habitantes.
No ano passado, o Observatório da Saúde mostrou que Roraima também liderou o ranking de mortalidade materna em 2021. Foram 280 mortes por 100 mil nascidos vivos.
À época, uma reportagem da Folha de S. Paulo que divulgou os dados citou o caso de uma jovem de 21 anos, que vivia em uma região de garimpo. Ela morreu no dia 27 de janeiro de 2021 na Maternidade Nossa Senhora de Nazareth, com 19 semanas de gestação.
Entre 2021 e 2022, anos em que Roraima teve os maiores índices de mortalidade materna do Brasil, a Maternidade Nossa Senhora de Nazareth funcionava em uma estrutura improvisada de tendas e lonas. O prédio estava em reforma desde 2020 e só foi entregue na última sexta-feira, dia 6 de setembro de 2024, com parte da obra ainda em andamento.
O legado da ‘Maternidade de Lona’
No dia 5 de junho de 2021, pacientes do Hospital Materno-Infantil Nossa Senhora de Nazareth, situado no bairro São Francisco, foram transferidas para uma estrutura que mais tarde ficou conhecida como a “Maternidade de Lona” de Roraima, devido uma reforma geral na unidade de saúde.
Conforme divulgou o Governo do Estado na época, a obra duraria apenas cinco meses e teria um custo de mais de R$ 20 milhões. A reforma demorou três anos para ser concluída. Enquanto isso, a ‘maternidade de lona’ acumulava casos de negligência médica e alto índice de mortes de bebês.
Além disso, um levantamento do Roraima em Tempo apontou que os gastos com a reforma e a manutenção da estrutura improvisada chegou a mais de R$ 90 milhões.
A precariedade do local também foi um dos problemas apontados em diversas denúncias. Em época de chuvas, por exemplo, era comum a água invadir corredores. Pacientes e servidores também registravam quase corriqueiramente a presença de ratos e baratas andando pelas enfermarias, bem como moscas na comida.
- Governador não se pronuncia sobre novo alagamento na maternidade
- OUTRA VEZ: pacientes registram rato na maternidade do Governo em Boa Vista
- Paciente da Maternidade de RR registra larvas e baratas em banheiros e enfermaria da unidade; veja vídeo
- Família denuncia demora em cirurgia, forte odor em bloco e moscas em comida na maternidade do Governo
Negligência
Mortes de bebês, ferimentos e procedimentos cirúrgicos mal sucedidos estão entre as centenas de casos relatados de negligência médica ocorridos na “Maternidade de Lona” de Roraima.
Uma paciente de 18 anos relatou à reportagem que um médico fraturou a clavícula do filho dela, ao puxar o bebê durante o parto. O caso ocorreu no início do mês de maio deste ano.
Além disso, em abril, uma mulher teve o intestino perfurado durante o parto e ficou em estado grave. Ao ter alta da Maternidade, a vítima começou a passar mal em casa e defecar pela vagina. Com isso, o esposo a levou para a unidade, que a encaminhou para o Hospital Geral de Roraima (HGR).
Morte de bebês
Outro caso de grande repercussão foi a morte de bebês gêmeos em julho de 2023. Na época, a mãe das vítimas denunciou negligência médica. A mulher relatou que os filhos apresentaram problema de saúde e precisariam fazer diálise, entretanto houve uma grande demora para a realização do procedimento.
Dados da Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) apontam que 273 bebês morreram na “Maternidade de Lona” em um intervalo de um ano e meio entre 2022 e 2023.
Também chamou a atenção da população o caso de três recém-nascidos que morreram na ‘maternidade de lona’ em um intervalo de quatro dias por falta de diálise ou uso incorreto de equipamento em julho do ano passado. À época, um médico nefrologista enviou denúncia ao Ministério Público de Roraima, que abriu procedimento para investigar o fato.
A pediatria chegou a solicitar diálise com urgência para dois bebês, mas os procedimentos só iniciaram horas depois. Com o terceiro recém-nascido houve falha grave no andamento da diálise. A solução usada para infusão na cavidade não estava em aparato correto. Além disso, o cateter inserido no abdômen do bebê tinha especificação para adulto e foi adaptado.
Fonte: Da Redação